Leandro Hassum a VEJA: “Meu talento vai além de uma barriga”
Humorista estrela seu novo filme de comédia da Netflix, 'Família, Pero No Mucho'

A Netflix lança nesta sexta-feira, 18, o filme Família, Pero No Mucho, novo filme de comédia familiar estrelada pelo humorista Leandro Hassum, 51. O longa é protagonizado por Otávio (Leandro Hassum), um dono de restaurante que é obrigado a viajar para Bariloche, na Argentina, para conhecer a família do noivo de sua filha Mariana (Júlia Svacinna). Mas o que devia ser uma divertida aventura se torna uma rivalidade entre sogros no estilo filme de Sessão da Tarde. Em entrevista a VEJA, o ator falou sobre o projeto, dos paralelos do roteiro com sua vida pessoal, da comédia e da sua bariátrica prestes a completar 11 anos.
Família, Pero No Mucho segue uma toada sua de filmes de comédias familiares na Netflix, como Tudo Bem no Natal Que Vem (2021), Meu Cunhado É um Vampiro (2023), títulos que sempre figuram no top 10 da plataforma quando são lançados. Por que acha que esse tipo de filme faz tanto sucesso com o público? Uma coisa que tenho combinado com a Netflix Brasil é que não queremos tirar ninguém da sala. Eu amo fazer uma comédia de identificação, em que o público, de uma certa forma, já viveu situações parecidas em sua própria vida. E não importa se eu estou vivendo essa situação em Bariloche, a gente aqui tá falando da classe A a E. Talvez a pessoa que vá assistir Família, Pero No Mucho não tenha condição de pagar um passeio para Bariloche, mas essa história podia ser contada de qualquer lugar, da periferia de São Paulo, no subúrbio do Rio de Janeiro. Porque nada mais é que uma história de pai e filha que envolve casamento, ciúme paterno, a transição de uma jovem adolescente para a vida adulta. Tudo isso gera uma identificação.
Esse novo filme fala muito de uma filha que cresceu e agora quer construir a própria história. Como foi quando a sua filha, Pietra, hoje com 26 anos, decidiu tocar o próprio rumo? Foi uma mistura de bom com ruim, porque é lindo ver que você criou um ser humano para a vida, deu estrutura, construiu bons pilares para que ela possa dizer assim: “Pai, daqui em diante sou eu, agora são as minhas decisões”. É muito legal. E você fala assim: “Nossa, que ser humano maneiro que eu criei”. Mas, ao mesmo tempo, tem essa coisa do ninho vazio, do luto. Eu me lembro que quando a minha filha se mudou da minha casa — antes até de casar, ela foi morar sozinha, quis ficar perto do trabalho e tudo mais, eu não queria ver minha filha montar a casa dela. Eu deixei a mudança dela e fui embora com pressa, porque estava com vontade de chorar. Eu não queria chorar na frente da minha filha. É gostoso ver um filho crescer, mas também dói.
Ela se tornou mãe em 2024, e agora o senhor é um avô também. Como tem sido essa experiência? Uma ressignificação da minha vida em todos os sentidos. Maravilhoso voltar a vestir roupa de Papai Noel para minha neta, ouvir ela falar “papá”, “mamã”, “vovô”, “vovó”, vê-la engatinhando. Que bom que a vida é feita de momentos, porque você valoriza os momentos. E eu não gosto só da parte boa e fácil. Eu amo a parte de botar para dormir, de dar banho, eu amo ficar acordado com ela, me dá um orgulho quando ninguém consegue acalmá-la, aí eu pego, boto no colo, e ela dorme, minha vontade é sair de quarto falando assim: “Sou o cara”. Estou vivendo na plenitude, quase uma segunda paternidade que posso aproveitar. Porque quando a Pietra nasceu eu estava muito no corre da profissão e acabei perdendo muita coisa. Agora consigo ser mais presente.
Esses filmes de comédia familiar que o senhor tem feito se parecem bastante com longas de artistas americanos como Adam Sandler e Ben Stiller. Se inspira nesse estilo de comediante? Me inspirar, não. Acho que eles também fazem comédia para um grande público, não fazem um humor nichado, tanto Ben Stiller, Adam Sandler, Steve Carell, Jim Carrey, Will Ferrell, entre tantos outros. São filmes que, por mais que eles trabalhem numa linha do absurdo, eles atuam numa linha de contato também. Às vezes o Will Ferrell trabalha naquele lugar de humor de quinta série B que todo mundo se identifica. Adam Sander também, ele é quinta série B total. Eu acho bacana.
O senhor é um dos artistas que fez uma das melhores transições da TV aberta para o streaming, conseguindo se reinventar. Por que acha que isso foi possível? Porque a Netflix é uma empresa que dá um espaço, uma estrutura muito boa e entendem do negócio. Sabem o que o talento vai entregar para o público. Fico honrado de fazer parte dos originais da Netflix Brasil, justamente porque é o trabalho deles é muito focado e muito direcionado.
Como comediante experiente, acha que as novas gerações de humoristas enfrentam mais desafios hoje em dia? Acho que estamos em um momento incrível para nos entendermos melhor, estudar mais o texto, criar melhores roteiros, se dedicar mais, transformar o gênero comédia numa coisa realmente estudada. Quando temos uma comédia como o Família, Pero No Mucho, temos um roteiro estudado para um humor argentino e brasileiro, então, estamos formando profissionais não só na área de atuação, mas na área de roteiro, para que conseguimos aumentar a qualidade cinematográfica na comédia.
O senhor fez uma cirurgia bariátrica há quase 11 anos e ouviu críticas dizendo ter perdido a graça após ter emagrecido. Hoje, como enxerga essa reação? Eu passei por muitos momentos. Tive revolta, tristeza, muita depressão e hoje estou em um momento de muito entendimento disso. Eu sou uma pessoa que entra na casa de todas as pessoas, então sinto que o público tem uma intimidade comigo para falar o que quiser. Posso não conhecer o público, mas o público me conhece. Então, a partir do momento que entendi isso, percebi que era uma coisa de família, como aquele parente que dá pitaco sobre a sua aparência. Num primeiro momento, fiquei muito reativo, mas foi uma reação que precisava ser parte da minha trajetória. Maturidade, crescimento, experiência, tudo isso me traz coisas boas. E eu sei que o meu talento vai além de uma barriga.
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