‘Jurassic World: Domínio’: os segredos por trás dos dinos na tela
O filme imagina um mundo no qual humanos devem viver ao lado de dinossauros — uma metáfora para os perigos reais de extinção
Numa noite chuvosa, um grupo de visitantes de um parque, entre os quais duas crianças, se vê cercado por uma ameaça inimaginável. Um tiranossauro ronda lentamente os visitantes, que tentam fazer o mínimo de barulho para escapar do gigantesco predador de visão precária. Com tensão milimetricamente construída, a cena de Jurassic Park, de 1993, ainda consegue causar arrepios na espinha do espectador quase trinta anos depois. O clímax se deve a uma combinação imbatível: de um lado, os enquadramentos certeiros do diretor Steven Spielberg; do outro, um peculiar ator de 6 metros de altura e 5 toneladas, o dinossauro T-Rex, então o maior robô animatrônico feito para o cinema. Aclamados num passado nem tão distante, os bichões de metal foram escanteados pela indústria, que os substituiu pela facilidade dos efeitos digitais. A extinção parecia iminente. Mas, assim como os dinos da ficção, os robôs voltaram aos holofotes — melhores e ainda mais realistas.
Jurassic World: Domínio, em cartaz nos cinemas e sexto filme da franquia de bilheteria bilionária, não só comprova esse retorno, mas se impõe como uma notável homenagem às produções anteriores. No elenco, os atuais protagonistas, Chris Pratt e Bryce Dallas Howard, unem forças com o trio de cientistas do primeiro longa, vividos por Sam Neill, Laura Dern e o impagável Jeff Goldblum — sobreviventes do terrível ataque do T-Rex na chuva. Os atores agora contracenam com um maior número de animatrônicos. Os dinos ficaram mais dinâmicos e verossímeis, com texturas pintadas a mão e manipuladores humanos treinados em artes como (quem diria!) a ioga. “É muito melhor atuar com um animatrônico do que ter de imaginar dinossauros na sua frente”, brincou Bryce em entrevista a VEJA.
Jurassic World Dinossauro Velociraptor Blue Super Colossal, Mattel
A busca pela excelência visual é parte do DNA da saga, e uma herança de mentes brilhantes que revolucionaram o cinema entre os anos 1970 e 1990, ao inovar na conjugação de efeitos especiais computadorizados, maquiagens super-realistas e bonecos-robô — começando por George Lucas em Star Wars e pelo próprio Spielberg em Tubarão (1975). Tais experimentações possibilitaram, nos anos 2000, o boom do filão de fantasia, de Harry Potter a Game of Thrones. O legado de Jurassic Park foi além do deslumbramento com as cenas. Na época, notou-se um interesse inédito pelos grandalhões — cresceu, aliás, o número de estudantes de paleontologia. De lá para cá, muito se descobriu sobre os dinos — inclusive que diversos deles exibiam plumagens, concepção abraçada pelo novo Jurassic World.
Baseado no livro de mesmo nome do escritor americano Michael Crichton, o filme de 1993 mostrava um parque temático em uma ilha onde dinossauros foram recriados a partir de engenharia genética. A presunção humana de interferir na natureza e comercializá-la trouxe consequências — a franquia é uma alegoria sobre a exploração do meio ambiente e as mudanças climáticas em andamento. O alerta foi elevado a potências inquietantes em 2015, com Jurassic World: o Mundo dos Dinossauros. Nele, o parque é retomado por um bilionário que desenvolve espécies híbridas perigosíssimas. Traficados para o continente em, Jurassic World: Reino Ameaçado, de 2018, e vendidos ilegalmente na nova sequência, os dinos se espalharam pelo planeta. Uns são tratados como animais de estimação, outros, menos amáveis, se isolaram na natureza. “O filme se chama Domínio para deixar claro o que é um ser dominante. Nós, seres humanos, somos pequenos e vulneráveis, mas achamos que podemos explorar o planeta como bem quisermos”, disse o diretor Colin Trevorrow via Zoom a VEJA.
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Na trama, um novo bilionário transporta dinossauros para um santuário isolado, onde sua empresa pode explorar os bichos para desenvolver remédios e sementes, entre outros produtos de modificações genéticas. Ellie (Laura Dern) e Alan (Sam Neil) se reencontram quando ela suspeita que o DNA dos dinos é usado na criação de um superinseto que ataca plantações e pode trazer fome à humanidade. A convite de Ian Malcolm (Jeff Goldblum), um antagonista convicto da volta dos dinossauros, a dupla se infiltra no santuário, tentando provar que o inseto vem das experimentações feitas por lá. No caminho, encontram Claire (Bryce), Owen (Pratt) e a menina adotada por ambos no filme anterior — resultado de uma clonagem. A ciência é poderosa e sua defesa é inegociável — mas, ao menos em Jurassic World, quem brinca de Deus pode acabar levando uma baita mordida.
Publicado em VEJA de 8 de junho de 2022, edição nº 2792
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