Glen Powell, novo astro da ação, a VEJA: ‘Tom Cruise sempre me ajuda’
Em O Sobrevivente, baseado em livro de Stephen King que já virou filme com Arnold Schwarzenegger, ator mostra suas armas
Em um estúdio no subúrbio de Sófia, capital da Bulgária, a magia do cinema se faz e transforma uma rua cenográfica em cidade americana pacata, atravessada apenas por um padre cego que cutuca o chão com sua bengala. Na ficção, a cena logo se revelará explosiva — e o pároco, nada menos do que um fugitivo disfarçado vivido pelo ator Glen Powell. Antes da sequência enveredar pela ação, contudo, ele repetirá a tal caminhada noite fria adentro em frente das câmeras do metódico cineasta Edgar Wright — uma labuta danada que VEJA acompanhou in loco na nação dos Bálcãs. Meses depois, aquelas horas de árdua disciplina se condensam em uma passagem curta (são dois minutos), mas eletrizante, de O Sobrevivente (The Running Man, Reino Unido/Estados Unidos, 2025), superprodução com orçamento de 110 milhões de dólares que entra em cartaz no Brasil no próximo dia 20. Para Powell, é um trabalho cheio de simbolismo: trata-se do primeiro filme do gênero inteiramente apoiado em seu carisma. As noites congelantes compensaram: ele sai da experiência como o mais hábil astro de ação dos novos tempos — e sucessor direto dos maiores do ramo em Hollywood.
A conexão é tão clara que, após saber da contratação para o longa, o ator avisou primeiro os pais, depois Tom Cruise, que se tornou seu mentor nos bastidores de Top Gun: Maverick (2022). Mestre da correria, o veterano o aconselhou: “Você não é tão descolado quanto pensa. Filme você mesmo correndo para se testar”. Funcionou. Na trama, Powell comanda a ação com naturalidade no papel de Ben Richards, operário desempregado que se inscreve em um reality show letal em nome de remédios para a filha.
A história vem do romance O Concorrente, publicado por Stephen King em 1982 e adaptado para o cinema em 1987, com Arnold Schwarzenegger no papel principal, em versão que pouco respeitava as palavras do autor em nome de cacoetes do brutamontes então no auge. Quase quarenta anos depois, Powell e Wright não desprezam a versão anterior como mera galhofa. Ao contrário, extraem algo precioso dela: homenageiam os exageros (e certa cafonice) da boa e velha ação dos anos 1980, agora temperada com um roteiro afiado que equilibra drama, humor e ficção científica politizada.
A reverência ao filão fica clara no trailer de Powell em Sófia, onde há uma foto dele com Schwarzenegger nos bastidores de Os Mercenários 3 (2014), também filmado na Bulgária devido aos estúdios bem equipados e baratos. Na época, um acidente num prédio de onze andares quase lhe custou a vida. “Um dos produtores brincou que eu era o mais dispensável do elenco”, lembra. Outros tempos. Hoje, aos 37 anos, ele é a maior referência da ação em sua geração e tem cinco projetos no horizonte, com cineastas como J.J. Abrams e Ron Howard. Ser duro na queda não é para qualquer um.
“Tom Cruise sempre me ajuda”
No set de O Sobrevivente, Glen Powell falou a VEJA dos aprendizados valiosos obtidos com o veterano e de sua paixão pelo cinema de ação oitentista.
Por que quis interpretar esse personagem? Eu nunca me senti atraído pelos filmes de super-heróis. Prefiro as tramas com as quais cresci, enredos em que um cara comum supera condições extraordinárias. O Sobrevivente é uma história contundente, que inspira o público a se ver na ação. Existe dentro de todos nós, afinal, a vontade de derrotar um sistema opressivo.
Ben é um herói trabalhador. Em que medida a dinâmica de classe é importante para a história? A classe média foi extinta nesse universo ficcional e restaram apenas os que têm tudo e os que têm nada, o que agrava a raiva e a frustração — sentimentos universais e prevalentes em nosso tempo. Valorizo histórias com esse alcance. O filme é a expressão mais cinematográfica possível disso.
Heróis como esse se tornaram um arquétipo cinematográfico graças a astros como Tom Cruise, seu amigo. Há algum conselho dele que conserve em mente? Tom sempre me ajuda. Depois de conseguir o papel, liguei primeiro para os meus pais e depois para ele. Obviamente, não há ninguém que se arrisque mais em nome do entretenimento. Eu fiz um milhão de perguntas a ele sobre carregar um filme de ação, já que estou em quase todas as cenas.
Por exemplo? Uma delas, claro, foi como ficar bem na câmera enquanto corro. Ele me disse: “Você não é tão descolado quanto pensa. Filme você mesmo correndo para se testar”. Tenho treinado desde então. Tudo o que fazemos no filme é captado pela câmera, com pouca computação. As explosões e as balas de festim são reais. Edgar é um cineasta dinâmico.
Antes de ser dirigido por Edgar Wright, já era um fã? Trabalhar com ele é a realização de um sonho. Eu o adoro desde Todo Mundo Quase Morto (2004). Quando tinha 20 anos, montei uma lista de cinco cineastas favoritos e Edgar estava na primeira posição. Nos conhecemos em 2022, em Londres. Eu o convidei para um café e acabamos assistindo a uma cópia restaurada de Carter, o Vingador (1971). Logo percebemos que falávamos a mesma língua.
Quais astros de ação o inspiram? Para esse filme, falamos de tudo, desde Fuga de Nova York (1981) até Duro de Matar (1988). Sempre amei Kevin Costner e Kurt Russell. Também adoro o timing cômico e os maneirismos de Harrison Ford. O divertido de trabalhar com Edgar é que pensamos sempre em filmes. Quando estou confuso, basta ele me dar uma referência para que eu entenda o que quer.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970
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