Exibição de ‘Último Tango em Paris’ é cancelada na França após protestos
Filme de 1972 contém uma infame cena de estupro filmada sem o consentimento de sua protagonista, a atriz Maria Schneider

Uma sessão do filme Último Tango em Paris foi cancelada pela Cinemateca Francesa, um das salas de exibição de filmes mais tradicionais da cidade, após uma série de protestos de grupos feministas. Dirigido por Bernardo Bertolucci e estrelado por Marlon Brando, o longa de 1972 se tornou infame por conter uma cena de estupro filmada sem o consentimento da atriz Maria Schneider, que tinha apenas 19 anos na época.
“Somos um cinema, não uma fortaleza. Não podemos correr riscos com a segurança de nossa equipe e público”, disse Frédéric Bonnaud, diretor da Cinemateca, em entrevista à agência de notícias AFP. “Indivíduos violentos estavam começando a fazer ameaças, e realizar essa exibição e debate representavam um risco totalmente desproporcional. Então tivemos de deixar para lá”, continuou. O longa seria exibido na noite de domingo, 15, como parte de uma mostra dedicada à filmografia de Brando.
Entenda a polêmica
Último Tango em Paris explora o relacionamento entre Paul (Brando), um americano de meia-idade que viaja à França para superar a morte da esposa, e uma mulher muito mais jovem, a parisiense Jeanne (Schneider). A premissa gerou controvérsias antes mesmo do lançamento do longa, em 1972, mas não impediu que ele se tornasse um sucesso de bilheteria e crítica. Bertolucci e Brando receberam indicações ao Oscar pelo trabalho e alcançaram níveis meteóricos de fama, enquanto Schneider foi ridicularizada pelas cenas de sexo e nudez de sua personagem e passou as décadas seguintes lutando contra problemas de saúde mental e vício em drogas.
As polêmicas em torno do filme voltaram à tona em 2007, quando Schneider, em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, disse que foi forçada a gravar uma cena de estupro que, apesar de simulada, não estava no roteiro. Na cena em questão, sua personagem é sodomizada por Brando, que utiliza manteiga como lubrificante. “Me senti humilhada e, para ser sincera, também me senti um pouco estuprada, tanto por Marlon quanto por Bertolucci”, revelou a atriz — morta em 2011, aos 58 anos. Anos depois, em 2013, Bertolucci falou sobre o caso durante uma palestra na Cinemateca Francesa e admitiu que não contou a Schneider sobre a cena de estupro. De acordo com o diretor, essa tática foi utilizada para capturar “reações reais” da atriz.
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