Como o Oscar encarou de frente o tiranismo de Vladimir Putin
Academia premiou o documentário 'Navalny', que expõe os abusos do presidente russo diante de seu principal opositor
Em uma contundente resposta aos abusos do presidente Vladimir Putin, o Oscar 2023 elegeu como melhor documentário o filme Navalny, sobre o advogado Alexei Navalny, principal opositor do mandatário russo e que está preso injustamente. “Navalny, nós não nos esquecemos de você”, disse o diretor Daniel Roher no discurso de agradecimento, antes de dedicar o prêmio aos presos políticos do mundo.
O filme – Liderando um movimento anti-Putin, focado nos escândalos de corrupção do atual governo, Navalny se tornou uma pedra no sapato do presidente, ou melhor, ditador, capaz de furar o bloqueio de uma mídia controlada pelo governo — e provocar protestos populares pelo país. Enquanto sua popularidade crescia entre os russos, maiores eram os ataques dos aliados de Putin ao advogado. O filme acompanha essa disputa, faz perguntas difíceis e contundentes ao político (como sua participação em uma marcha de extrema-direita), e se demora no caso do envenenamento.
Em 2020, em um voo da Sibéria para Moscou, Navalny passou mal e foi atendido após um pouso de emergência. Dias depois, transferido para a Alemanha, constatou-se que ele fora envenenado pela substância Novichok, agente letal que atinge o sistema nervoso, fabricado exclusivamente pela Rússia. Sem a esperança de uma investigação oficial do país de Putin — e certo do envolvimento do Kremlin no atentado — um jornalista especializado em dados deu início a uma análise independente, pontapé da trama que embala o documentário.
Conforme Navalny toma os noticiários mundiais, a ideia de um novo atentado contra ele se torna mais difícil: a pressão internacional cairia sobre a Rússia. Porém, enquanto o documentário se desenrola, difícil esquecer da guerra do país contra a Ucrânia, embate que já dura quase um ano, com milhares de vítimas – e do qual Putin não parece que vai sair derrotado. Como esperar, então, um desfecho feliz para Navalny, preso assim que colocou os pés na Rússia novamente? Uma dúvida cruel escancarada pelo filme — o qual, agora no Oscar, mancha ainda mais a já imunda reputação do presidente russo.