Cannes: elenco indígena protesta contra marco temporal no tapete vermelho
Atores e diretores do filme 'A Flor do Buriti', gravado na comunidade nativa de kraolândia, no Tocantins, empunharam faixa contrária ao projeto de lei
O elenco e direção do filme A Flor do Buriti, em exibição na mostra Um Certo Olhar, usou o tapete vermelho do Festival de Cannes para defender os direitos territoriais indígenas protestando contra o marco temporal. “O futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça. Não ao marco temporal”, diz a faixa empunhada pela equipe do longa, entre eles os atores Francisco Hyjno, Luzia Cruwakwyj e Henrique Ihjac, originários do povo krahô, do Tocantins.
A manifestação aconteceu na quarta-feira, 24, antes da estreia do longa francês The Pot-au-Feu, de Tran Anh Hung. Além dos atores, os diretores portugueses João Salaviza e Renée Nader Messora também participaram da manifestação, que aconteceu no mesmo dia em que a câmara brasileira aprovou tramitação em regime de urgência para o projeto que trata do marco temporal na demarcação de terras indígenas.
Apresentada em 2007, a proposta de lei determina a data da Constituição de 1988 como um marco para a demarcação de terras indígenas — assim, indígenas que não estivessem em suas terras na data da promulgação do documento, em 5 de outubro de 1988, perderiam o direito de reivindicar a área. “Alguns dos fotógrafos gritaram em apoio e estavam muito felizes”, disse o diretor Salvizza sobre a recepção do protesto.
Filmado na Terra Indígena de Kraôlandia, no estado do Tocantins, por mais de um ano, A Flor de Buriti narra a história da comunidade nativa Krahô e sua tentativa de resistir à exploração, violência e se adaptar à mudança de identidade impostas aos indígenas no mundo moderno.