A virada de Robert Downey Jr, da prisão até a Marvel – e rumo ao Oscar
Astro que deu vida ao herói Homem de Ferro vem fazendo a limpa nas premiações por sua atuação em 'Oppenheimer' – jornada de altos e baixos digna de cinema
Robert Downey Jr., 58 anos, conta que, quando entrou para o elenco de Oppenheimer, o diretor Christopher Nolan prometeu que trabalharia com ele os “outros músculos” que estavam atrofiados. A brincadeira alfinetava a zona de conforto na qual o ator se aninhou desde 2008, quando assumiu a armadura do herói super-popular Homem de Ferro. Após nove filmes interpretando o bonachão Tony Stark — que em muito se parece com o próprio ator —, Downey Jr. se preocupou com os próximos passos. Ele conseguiria fazer bons projetos? Famoso e rico, o que mais ele queria? Será que conseguiria o prestígio que seu pai, um cineasta alternativo, almejava para o filho? A resposta foi sim para todas as alternativas acima.
Neste domingo, 18, Downey Jr. levou o prêmio Bafta de melhor ator coadjuvante pelo papel de Lewis Strauss, peça-chave do filme de Nolan sobre o “pai da bomba atômica”, protagonizado por Cillian Murphy — ambos, aliás, também saíram vencedores da cerimônia, cena que vem se repetindo nessa temporada de premiações. No próximo dia 10 de março, o grupo promete passar o rodo no Oscar. Se concretizado o favoritismo, Downey Jr. vai ganhar sua primeira estatueta — vitória que será a coroação de uma trajetória de altos e baixos dramáticos: e uma virada que, com o perdão do clichê, é digna de filme.
Downey Jr, como diz seu nome, era filho de Robert Downey Sr. (1936-2021), cineasta americano cult que fez filmes completamente opostos aos dos heróis da Marvel — sua produção mais famosa foi Putney Swope (1969), uma trama subversiva, que ecoava a luta dos negros por direitos civis nos Estados Unidos da época, na qual um homem negro se torna diretor de uma estranha agência publicitária. Downey Jr. cresceu, então, cercado pela nata do cinema americano em sets de filmagens e fez sua estreia como ator aos 5 anos de idade, trabalhando com o pai. Assim como a profissão entrou em sua vida de forma natural, as drogas também eram parte de sua rotina: a primeira vez que o ator fumou maconha foi na infância, com a supervisão do pai — que mais tarde revelou seu arrependimento de ter introduzido o garoto às drogas. Eventualmente, Downey Jr. se tornou viciado em cocaína, heroína e álcool.
Na juventude, entre os anos 1980 e 1990, o ator se viu entre dois cenários: de um lado, ganhava espaço e prestígio na TV e no cinema (chegou a concorrer ao Oscar ao interpretar Charles Chaplin no filme Chaplin), do outro, aumentava sua fama de garoto-problema. O fundo do poço chegou em 1999. Após uma sequência de idas e vindas de clínicas de reabilitação, um divórcio e três detenções provocadas por porte e uso de drogas, Downey Jr. foi sentenciado a três anos de prisão, cumprindo 15 meses da pena. Em seguida, foi reencaminhado para uma clínica. Livre, em 2002, ele decidiu de vez pela sobriedade. Demorou para que voltasse a conquistar a confiança de Hollywood, mas, como era bem relacionado, conseguiu papéis em filmes de amigos. Mel Gibson foi o primeiro a pagar para ver — literalmente, pois o ator bancou um seguro em nome de Downey Jr., caso algo desse errado no caminho.
A força de vontade e a ajuda ao redor, especialmente da segunda e atual esposa, Susan Levin, trouxeram resultados. Downey Jr. emplacou papéis importantes até convencer a Marvel a lhe entregar a armadura do Homem de Ferro — personagem que desempenhou com jovialidade e alegria pungente. Se tornou o ator mais bem pago do mundo, com rendimentos batendo os 90 milhões de dólares. Para manter a mente em paz e a sobriedade, Downey Jr. se refugia em uma fazenda com vários animais, faz ioga, terapia e meditação e está envolvido em diversas causas, entre elas uma de readaptação social de prisioneiros. A volta por cima não foi fácil nem rápida, mas valeu a pena.
Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
Tela Plana para novidades da TV e do streaming
O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial