A relação curta — e instigante — de José Saramago com Hollywood
No centenário do autor português, assista às adaptações grandiosas de suas narrativas
Nascido em Portugal em 16 de novembro de 1922 – há exatos 100 anos – José Saramago, morto em 2010, foi um dos nomes mais prolíficos da literatura lusófona. Dotada de um olhar afiado para o social e uma escrita oralizada, que subverte regras de pontuação, sua ficção lhe conferiu um Nobel em 1998. O notável trabalho de Saramago como romancista foi além, sendo adaptado algumas vezes para as telas em diferentes países. Em Hollywood, suas narrativas ganharam duas ótimas versões, comandadas por cineastas de renome, que levaram a sério o conteúdo instigante e nada palatável da obra do escritor. Lendo ou não os livros, vale a pena ver os filmes:
Ensaio Sobre a Cegueira (2008)
Onde assistir: Disponível para aluguel no Google Play
A adaptação do romance mais célebre de Saramago foi para as telonas sob direção do brasileiro Fernando Meirelles. Na história, uma epidemia chamada “treva branca” faz com que os afetados passem a enxergar uma superfície leitosa. À medida que a peste se espalha pelo país e os doentes são colocados em quarentena, os serviços públicos começam a falhar. As pessoas, então, precisam lutar por suas necessidades básicas, tomadas pelo desespero e por seus aflitivos instintos primários. Arrebatador, o longa é protagonizado por Julianne Moore, que interpreta uma mulher que ainda consegue enxergar e enfrenta dilemas morais pungentes. O elenco também conta com Mark Ruffalo, Alice Braga e Gael García Bernal.
O Homem Duplicado (2013)
Onde assistir: Disponível para aluguel no Now, Google Play, Amazon e Apple iTunes
A obra publicada em 2002 por Saramago virou um thriller de bela fotografia nas lentes perspicazes de Denis Villeneuve. O diretor, afeito a brincar com a linearidade em seus filmes, se diverte com a instigante narrativa do autor português. Jake Gyllenhaal interpreta um professor de história que leva uma vida sossegada até descobrir, assistindo a um filme, um sósia perfeitamente igual a ele. Jogado em uma crise de identidade, o personagem vai atrás do ator em questão, e passa a questionar sua individualidade no mundo. Uma trama cheia de nuances, que une o espírito questionador de Saramago ao existencial de Villeneuve. Para quem quer entender o final da produção, vale ler a explicação dada a VEJA pela viúva do autor, Pílar del Rio.