A polêmica em torno de cinebiografia sobre Michael Jackson
Diretor de documentário que expõe acusações de abuso sexual infantil condenou a produção do filme sobre o cantor
Anunciada recentemente e em fase de pré-produção, a cinebiografia de Michael Jackson já vem suscitando polêmicas. O diretor do documentário Leaving Neverland (2019), Dan Reed, condenou o novo filme em um artigo de opinião publicado pelo jornal britânico The Guardian no domingo, 5. “Ninguém está falando em ‘cancelar’ este filme, que vai glorificar um homem que estuprou crianças”, escreveu Reed.
Leaving Neverland é uma série documental com dois episódios com depoimentos de Wade Robson e James Safechuck, que acusam o astro de estupro. Quando crianças, ambos foram convidados para ficar com Jackson em seu rancho na Califórnia e para acompanhá-lo em turnê. Robson relata ter sido estuprado pelo cantor pela primeira vez aos 7 anos, enquanto Safechuck tinha 10 na época do primeiro abuso.
“Aos cineastas, eu digo: como vocês vão representar o momento em que Jackson, um homem adulto de 30 anos, pega uma criança pela mão e a leva para aquele quarto? Como você descreverá o que acontece a seguir?”, questionou Reed no artigo. “Ao evitar a questão da predileção de Jackson por dormir com meninos jovens, você está transmitindo uma mensagem para milhões de sobreviventes de abuso sexual infantil. Essa mensagem é: se um pedófilo for rico e popular o suficiente, a sociedade o perdoará”.
A produção vindoura, intitulada Michael, será dirigida por Antoine Fuqua, de Emancipation, e protagonizada por Jaafar Jackson, sobrinho do cantor. O filme conta com apoio do espólio do artista, o que pode interferir na maneira como serão apresentadas as alegações feitas contra ele. Reed destaca no artigo que vítimas de abuso sexual infantil costumam ser conquistadas por seus predadores, desenvolvendo um laço complexo de culpa e cumplicidade. Assim, encobrem e protegem seus agressores por décadas. “É por isso que Robson se tornou uma importante testemunha de defesa no julgamento de Jackson por abuso sexual infantil em 2005, e foi fundamental para que ele fosse absolvido. O júri acreditou em Robson e considerou o cantor inocente. Ele agora admite que mentiu no tribunal para proteger seu mentor e agressor”, escreveu o diretor de Leaving Neverland.