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A brasileira envolvida diretamente em ‘Divertida Mente 2’

Paulistana Raquel Bordin deu pitacos na edição final do maior sucesso de bilheteria da animação da Disney e Pixar

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 jul 2024, 13h00

Nascida e crescida em São Paulo, a editora, diretora, cineasta e animadora de imagem Raquel Bordin hoje é uma das pouquíssimas brasileiras a trabalhar na Pixar, na Califórnia. Formada no curso de cinema da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), a jovem se mudou para os Estados Unidos aos 21 anos, para estudar na New York Film Academy e depois na escola Gnomon, em Los Angeles. Atualmente morando na cidade californiana de Oakland, a paulistana trabalha no escritório do estúdio de animação do braço da Disney em Emeryville há quase cinco anos no cargo de CFS (creative film services), e atuou diretamente na edição de Divertida Mente 2, o maior sucesso da Pixar e da animação na história com arrecadação de 1,4 bilhão de dólares em bilheteria mundial.

Em entrevista a VEJA, Raquel, que também trabalhou em Luca (2021), Lightyear (2022), Red: Crescer é uma Fera (2022), Elementos (2023), explica sua participação no longa sobre as emoções de Riley, menina que passa a ter dentro de sua cabeça (a central de controle), a Ansiedade, o Tédio, a Vergonha e a Inveja como companheiras da Alegria, da Tristeza, da Nojinho, do Raiva e do Medo. Confira a conversa na íntegra:

Como foi seu envolvimento em Divertida Mente 2? Eu trabalho no departamento internacional da Pixar, onde a gente faz todas as versões de filmes para todos os lugares do mundo. Nesse último filme, Divertida Mente 2, nós fizemos onze versões diferentes, em que alteramos algumas informações do filme, como por exemplo na cena do cofre da mente da Riley, em que mudamos o nome de “the vault” para a tradução em português, “o cofre”. Fazemos isso com um monte de situações no filme, para adequá-lo à língua do país em que será exibido. Também trabalhamos na área de marketing, indo a alguns eventos, como o D23, e além disso somos responsáveis por fazer os trailers — tudo isso é trabalho do meu departamento.

Na prática, como funciona? É como se fossemos um time da SWAT, a gente entra dentro do filme, faz o que precisa fazer e sai. E depois vamos para o próximo. Tem equipes que trabalham anos em um único filme, mas nós trabalhamos em todos que estão em desenvolvimento. Por exemplo, em Divertida Mente 2, tem algumas cenas que usam jornais, em que as emoções leem fofocas do que está acontecendo no mundo da Riley. Nós trocamos tudo aquilo para português, para fazer sentido para o público brasileiro, e tudo é feito direto na imagem. A ideia é que o filme seja bem recebido visualmente — não só com uma dublagem adequada — pela nação que está assistindo, para que essa audiência consiga absorver e ter a experiência completa do filme.

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Pouquíssimos brasileiros trabalham na Pixar atualmente. Você é a única brasileira da sua equipe? Sim, isso mesmo. Hoje temos cerca de onze brasileiros na Pixar, entre uns 1400 funcionários, e sou a única não americana do meu time.

Então, sua participação na edição final que veio para o Brasil acabou sendo essencial, certo? Acredito que sim. É interessante que a Pixar tem uns quatro ou cinco cinemas no complexo, e sempre quando finalizamos a minha chefe me coloca sozinha em algum deles para assistir e me pergunta o que eu achei da dublagem final. E aí fica eu, junto com uma coordenadora que não fala português, assistindo ao filme em português após um ano assistindo só partes em inglês, e essa coordenadora está lá para ver a minha reação, checar se as piadas foram bem traduzidas, se elas funcionam em outra língua. Então a minha chefe me usa usa um pouquinho dessa da minha parte internacional para esse tipo de coisa — assim como ela usa de outros funcionários de outras culturas, para ter esse mesmo tipo de feedback.

Existe um cuidado extra com o público brasileiro? Sim, existe. Até achei que só estava lá como uma cereja no bolo, mas no Elementos (2023) eu trabalhei em alguns estágios da dublagem, no meio e no fim e no meio, para fazer observações, fui com um bloquinho e anotei bastante coisa. E muito do que eu apontei foram modificadas no filme final. Então, sim, eles levam muito em consideração coisas que nós, estrangeiros, falamos na hora de concluir um filme. Eles têm muito cuidado com tudo, porque querem que o mundo tenha a mesma representação do filme como se fosse em inglês e se fosse um americano assistindo. É importante esse cuidado extraordinário com todos os detalhes, para que todo mundo consiga ter essa mesma experiência.

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