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Educação em evidência

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Falta de base e atraso escolar: em busca do tempo perdido

Se o problema dos alunos é na base, principalmente na rede pública de ensino, são necessárias intervenções mais vigorosas para recuperar o tempo perdido

Por João Batista Oliveira 18 out 2021, 16h03

Recentemente, a imprensa divulgou declarações do Presidente do Conselho dos Secretários de Educação a respeito da falta de orientação (do MEC) para estados e municípios. A revisão de conceitos básicos da psicologia da aprendizagem e da pedagogia deveria ser o suficiente para que professores, escolas e secretarias de educação soubessem o que fazer. Isso não é tema para um Ministério da Educação.

Comecemos pelo começo. Em condições normais de temperatura e pressão, um aluno é avaliado ao longo do ano: cada teste avalia o que foi ensinado no período imediatamente anterior. Se o aluno erra pouco, é porque lhe faltam alguns conceitos ou habilidades. Se erra muito, é porque lhe falta base. Se o problema é de falta de pré-requisitos, as estratégias eficazes de recuperação funcionam se são imediatas, robustas e adequadas. Se o problema é de falta de base, o buraco é mais embaixo – e são necessárias intervenções mais vigorosas.

O mesmo ocorre ao final do ano. Se, apesar de tudo, o aluno não consegue dominar os conhecimentos básicos da série, isso significa dizer que o aluno não tem base suficiente. Se passar de ano, não vai tirar proveito no ano seguinte. Sei que na prática isso não funciona no Brasil, mas tantas outras coisas também não funcionam por aqui… Isso não muda a validade, pertinência e utilidade dos conceitos.

A pandemia vai expor uma ferida muito maior, especialmente para a grande maioria das escolas públicas. Os alunos praticamente ficaram sem avançar durante dois anos. Formalmente, estarão pelo menos dois anos atrasados em relação ao ano para o qual serão promovidos em 2022. O que fazer?

O MEC não dispõe de uma teoria ou sabedoria especial para responder a essa pergunta. Ao contrário, o que quase sempre costuma propor não se baseia em evidências e raramente dá certo. Basta examinar as avaliações de programas do MEC nas últimas décadas para confirmar essa afirmação.

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A resposta já existe há pelo menos um século e se encontra registrada nos bons livros de psicologia educacional, currículos e avaliação. Se falta base, é preciso fazer ou refazer a base. Sem isso, a casa cai. A base é o nível de conhecimentos que o aluno precisa ter para assimilar produtivamente os conhecimentos da etapa ou série seguinte.

As escolas e redes públicas de ensino hesitam em fazer o que é certo por diferentes razões, tais como receio de reação dos pais, vergonha de usar um livro do 3º ano com alunos do 5º ano e outros argumentos pouco sólidos. Por outro lado, procuram tapar o sol com a peneira e trilhar o caminho fácil do mais: mais aulas, mais contraturno, mais tempo integral, mais tecnologia, mais professores auxiliares. Ou não fazer nada porque não há recursos para tal.

Nada disso terá impacto – seja (ou não) recomendado ou financiado pelo MEC ou por operadores de milagres. O erro mais comum é tentar ministrar o currículo formal da série no horário normal e oferecer atividade de reforço no contraturno. Reforçar o quê? Base não se reforça, base se constrói com elementos e ligas sólidas. Base se faz com olho num currículo bem estruturado e recomeçando dos fundamentos. É inviável ensinar frações pela manhã e recuperar os conteúdos da multiplicação e da divisão no contraturno. O cérebro não se acomoda facilmente a desvairios dessa natureza.

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A pandemia nos tem ensinado muitas lições. Que uma delas seja a volta aos fundamentos da boa pedagogia e do bom ensino. Uma coisa de cada vez, de acordo com uma estrutura e sequência bem ordenadas. Por aí, temos chance. Fora disso, é piorar o que já está muito ruim.

OBS: Quem quiser se aprofundar nesse tema pode baixar o e-book “Desafios do ensino durante a pandemia – falta de base, falta de pré-requisitos e recuperação”.

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