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O racismo sem floreios de ‘Selma – Uma Luta pela Igualdade’

Filme sobre Martin Luther King expõe a dura realidade dos negros nos Estados Unidos e a luta pelo fim dos processos eleitorais discriminatórios

Por Mabi Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h54 - Publicado em 20 nov 2017, 10h33

Martin Luther King Jr. é uma das muitas personalidades lembradas em 20 de novembro, dia da Consciência Negra no Brasil. O pastor batista foi um dos principais líderes do movimento pelos direitos civis e igualdade racial nos Estados Unidos. Por seus atos, foi condecorado com o Nobel da Paz em 1964.

Diante de violentos ataques racistas em Selma, King organizou uma série de manifestações pacíficas pedindo o direito de voto aos negros — assim, eles poderiam eleger políticos que os representasse e defendesse, entre outros direitos que só donos de um título de eleitor tinham. Depois de duas tentativas falhas, o pastor marchou ao lado de 8.000 pessoas de todas as cores, credos e gêneros rumo a Montgomery, capital do Alabama, no primeiro dos protestos que levou a Lei dos Direitos de Voto de 1965,  marco do fim dos processos eleitorais discriminatórios.

A marcha e os eventos que a antecederam inspiraram o filme Selma – Uma Luta Pela Igualdade, retrato da condição dos negros dos Estados Unidos há 50 anos. Dirigida por Ava DuVernay, a produção foi amplamente elogiada pela veracidade do enredo e personagens, um retrato não romantizado do preconceito. Confira:

 

As meninas assassinadas pelo Ku Klux Klan

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(Reprodução/VEJA.com)

Cinco garotinhas conversavam depois da escola dominical, em uma igreja batista frequentada por negros, quando um estrondo violento interrompeu a conversa sobre o último penteado de Coretta Scott, esposa de Martin Luther King. A explosão, reproduzida em Selma com ares de filmes de terror, de fato aconteceu nos Estados Unidos em 1963. “Elas não morreram em vão”, afirmou Luther King ao jornal Park City Daily News, na época. O ataque foi atribuído ao Ku Klux Klan, grupo de supremacistas brancos que buscam acabar com os negros.

 

Os entraves de Lyndon B. Johnson

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(Reprodução/VEJA.com)
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O relacionamento entre o então presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson, e Martin Luther King esteve entre as principais controvérsias de Selma — muito porque as cenas partiram de relatos e da autobiografia do ministro batista, recheada de parcialidade e opiniões pessoais. No filme, Johnson não fica muito satisfeito ao receber uma visita do ativista na Casa Branca. Antes de recebê-lo, o presidente reclama da impaciência e tenacidade de King, alegando que não poderia atender a todas as suas demandas de uma vez, sendo tratado como um entrave da causa negra nos Estados Unidos. No entanto, de acordo com levantamentos do jornal The Guardian, o presidente era bem mais parceiro de King do que pareceu no filme. Ambos guardavam divergências de opinião, claro, mas muito mais por métodos do que fins.

 

Domingo Sangrento

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(Reprodução/VEJA.com)

A violência da polícia contra os manifestantes na primeira marcha de Selma a Montgomerry poderia bem ser um exagero da licença poética de Ava DuVernay. No entanto, a represália aos partidários de Martin Luther King foi real em todos os tons de sangue, baseada, inclusive, em registros audiovisuais do ocorrido. Centenas de civis caminhavam para Montgomery, quando esbarraram em uma barreira humana na ponte Edmund Pettus, que ligava as cidades. Frente as tentativas de negociação por parte dos líderes do movimento negro, os policiais atacaram os manifestantes com cassetetes e bombas de gás lacrimogênio, sem restrição a idade ou gênero, enquanto moradores brancos da cidade assistiam à barbárie.

A imagem de Amelia Boynton — interpretada no cinema por Lorraine Toussaint (Orange Is The New Black) — inconsciente no chão estampou a capa dos principais jornais do mundo no dia seguinte, enquanto imagens do confronto foram transmitidas a todo o país. O destaque nas mídias levou pessoas de todos os credos e cores a Selma para somar à manifestação.

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Coretta King encontra Malcom X

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(Reprodução/VEJA.com)

A prisão de Martin Luther King em Selma atraiu para a cidade Malcolm X, contemporâneo do pastor batista que compartilhava dos ideais de igualdade entre negros e brancos. No entanto, à medida que King propunha os “protestos pacíficos”, Malcolm apoiava o uso de “qualquer meio necessário” para conquistar o objetivo, inclusive sequestros e assassinatos.

Preocupados que a presença do ativista pudesse acender ainda mais a raiva dos negros de Selma, já revoltados com o resultado da primeira manifestação, os partidários de King pediram a sua esposa, Coretta, para pregar a não violência ao povo, e tentar convencer Malcolm a não incentivar atos extremos naquele momento. A conversa foi retratada no filme como Coretta contou em 1988, em entrevista arquivada pela Universidade de Washington: “Ele pediu para eu dizer ao meu marido que ele não estava em Selma para dificultar nosso trabalho, mas para representar todas as abordagens alternativas que surgiriam caso não ouvissem o que Martin tinha a dizer”.

 

Assassinato de James Reeb

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(Reprodução/VEJA.com)

Diante dos eventos do Domingo Sangrento, simpatizantes da causa negra nos Estados Unidos juntaram-se a Martin Luther King, em Selma, para a marcha até Montgomery, entre eles o ministro da Associação Unitariana Universalista, James Reeb, que era branco. Enquanto saía de uma lanchonete, um grupo de supremacistas brancos o atacou, por ele não fazer jus a cor de sua pele. Na ficção, ele estava acompanhado de outro homem, enquanto na vida real, estava com um grupo de três pessoas. Em ambos os casos, Reeb não resistiu aos ferimentos e morreu, sendo depois homenageado pelo presidente Lyndon B. Johnson e Luther King.

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