O que o filme ‘Conclave’ revela sobre a escolha do próximo papa
Longa vencedor do Oscar retrata uma eleição papal fictícia, mas que reflete conflitos que devem se desenrolar na vida real com a morte de Francisco

Lançado em janeiro deste ano, o filme Conclave, de Edward Berger, foi um dos longas aclamados pelo Oscar ao vencer a categoria de melhor roteiro adaptado. Baseado no livro homônimo de Robert Harris, a trama volta suas câmeras para dentro da Capela Sistina, onde cardeais de vários lugares do mundo se reúnem para eleger o novo papa. Cercado de mistérios, o conclave fictício foi reconstituído com base em pesquisas históricas, levando para as telas cenas que retratam a votação a portas fechadas, as negociações entre grupos de visões diversas e, enfim, a liberação da fumaça branca que anuncia a escolha do próximo líder máximo da Igreja Católica Apostólica Romana. Com a morte de Francisco, o filme voltou à tona, e revela discussões que podem se repetir nos próximos dias — dessa vez na vida real.
Dada a natureza secreta da política papal, é difícil saber os contornos exatos dos grupos que se formarão com a morte de Francisco, mas é provável que haja divisões semelhantes às que são retratadas no filme: as discussões atuais sobre os principais candidatos papais incluem cardeais progressistas, que dariam continuidade ao legado de Francisco, figuras moderadas que poderiam apaziguar a turbulência resultante das reformas progressistas recentes e conservadores alinhados a tradições antigas, incluindo a missa em latim.
Líder da Igreja por 12 anos, Francisco remodelou drasticamente o corpo eleitoral do Vaticano, tendo nomeado 108 dos 136 homens atualmente elegíveis para a votação, então parece improvável que seus indicados escolham um conservador linha-dura — embora nada seja impossível. Primeiro papa nascido fora da Europa, ele nomeou cardeais de diversos lugares do mundo, aumentando a diversidade geográfica do grupo. Por isso mesmo, o próximo conclave será mais global do que nunca, e alguns estudiosos do Vaticano apontam a chance de que, assim como acontece no filme, o novo papa venha de lugares até então escanteados pelo Vaticano, como da Ásia ou da África, de onde vem alguns nomes que despontam como favoritos ao papado.
O eleito, no entanto, não será um cardeal misterioso que aparece de última hora na Capela Sistina, como no filme faz Benitez (Carlos Diehz) — um mexicano ordenado cardeal no Afeganistão. Cardeais secretos de fato existem: diversos papas nomeiam clérigos in pectore (em segredo) para homenageá-los e recompensá-los pelo trabalho á Igreja sem que corram o risco de conflitos diplomáticos ou perseguições violentas em áreas hostis ao catolicismo. João Paulo II, por exemplo, realizou diversas elevações in pectore, anunciando posteriormente os cardeais publicamente. Segundo as regras do Vaticano, no entanto, os cardeais devem ter sido celebrados de maneira pública pelo papa que os nomeou para que se tornem parte do Colégio Cardinalício e participem do conclave. No caso de Francisco, suas nomeações deixam à Igreja um legado global que pode influenciar na escolha do próximo papa.
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