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O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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‘Cura Gay’ é ponto real e cruel do filme ‘O Jogo da Imitação’

Cinebiografia de Alan Turing, o 'pai da computação', mostra os efeitos da castração química. Longa pode ser visto na Netflix

Por Mabi Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2017, 12h20 - Publicado em 22 set 2017, 12h13

A “Cura Gay”, assunto que voltou a agitar as redes sociais no Brasil esta semana, já teve contornos mais sérios em um passado não muito distante. No Reino Unido, entre 1885 e 1967, cerca de 49.000 homossexuais foram condenados por “indecência” pela Justiça britânica, e sentenciados a prisão ou castração química — um coquetel de drogas usado para inibir a líbido. A lei não via classe social ou status, e, por muito tempo, ofuscou o brilhante legado de Alan Turing, o “pai do computador” e responsável por decifrar mensagens nazistas criptografadas, que, por fim, levaram os Aliados a vitória durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 2014, a história de Turing inspirou o filme O Jogo da Imitação, de Morten Tyldum — um relato cheio de ficção, mas bastante real no retrato da homofobia dos anos 1950. A produção levou o Oscar de melhor roteiro adaptado no ano seguinte, e foi indicada em outras sete categorias, entre elas melhor filme, direção e ator para Benedict Cumberbatch, o Turing dos cinemas. A produção pode ser vista na Netflix.

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Confira abaixo o que é real e ficção na história do pai da computação.

A Máquina

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(Divulgação/VEJA.com)

Submarinos nazistas dizimavam frotas e mais frotas de navios dos Aliados quando o serviço secreto britânico descobriu a Enigma, uma máquina usada pelo exército inimigo para se comunicar através de mensagens criptografadas. A bendita era capaz de criar uma combinação incontável de códigos, que eram alterados todos os dias, à meia-noite. Decifrá-la apenas com a mente humana levaria cerca de 20 milhões de anos.

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A descoberta não acrescentava em nada para o lado dos Aliados, pelo menos não até Alan Turing, um jovem matemático formado em Princeton, se candidatar para um trabalho em Bletchley Park, antiga instalação militar secreta na Inglaterra, onde especialistas tentavam quebrar a Enigma. Turing foi o primeiro a perceber que apenas uma máquina poderia vencer outra. Sua invenção funcionou e, estima-se, encurtou a guerra em cerca de dois anos, salvou mais de 14 milhões de vidas e ajudou diretamente na vitória dos aliados contra Hittler.

Mantida em segredo por décadas, a história sustenta o roteiro de O Jogo da Imitação. Claro, a máquina não decifrou os códigos com precisão do dia para a noite, como mostra o filme, mas no geral, teve um desenvolvimento parecido com o retratado no cinema, segundo apontou Christian Caryl no ensaio The Poor Imitation Game, para o site The New York Review of Books.

Tímido, sim. Autista, Obsessivo e Compulsivo, não

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(Divulgação/VEJA.com)

O Alan Turing de Morten Tyldum é um jovem adulto solitário e socialmente estranho, daqueles que almoça sozinho e isolado, enquanto os colegas de trabalho conversam em outra mesa. Por mais comovente que seja, a cena não passa de uma criação do diretor para provocar empatia nos espectadores. Segundo Andrew Hodges na biografia Alan Turing: The Enigma, o matemático era um rapaz amigável e bastante sociável, apesar de excêntrico, impaciente e um tanto quanto preconceituoso com aqueles de “baixo intelecto”. Turing, na verdade, não apresentava autismo ou Transtorno Obsessivo Compulsivo, como insinuado em vários momentos do filme.

 

Uma carta a Churchill

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(Divulgação/VEJA.com)

Diante das dificuldades financeiras para desenvolver a máquina que iria desvendar mensagens nazistas criptografadas, Alan Turing se dirigiu diretamente a Winston Churchill pedindo por maiores recursos. O matemático se joga em frente ao carro de Robert Menzies, Primeiro Ministro da Austrália, e pede para ele entregar a carta à Churchill. No cinema, o político não só libera a verba para o projeto, como coloca Turing como responsável por ele. Churchill, de fato, se compadeceu com a situação, mas não chegou a conhecer o inventor do computador, tampouco dar-lhe um cargo de confiança.

 

Joan e Turing

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(Divulgação/VEJA.com)

Para camuflar a homossexualidade, Turing pediu a colega Joan em casamento com uma aliança feita por ele, com fio de aço. Ele gostava muito dela como amiga, e, diferentemente do filme, pensou bastante antes de fazer a proposta. Poucos ficaram sabendo do noivado, e Joan não usava sua aliança no trabalho. Assim como mostra o longa, ela concordou com o casamento, ciente de que ele era gay. O término foi bem menos traumático do que o retratado na produção: sem gritos ou exaltações, ambos ficaram muito tristes com a separação, mas concordaram que era para o melhor.

 

Cura Gay

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(Divulgação/VEJA.com)

Toda a contribuição de Turing para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e o futuro da tecnologia foi deixada de lado diante das acusações de homossexualidade, aos olhos da Justiça. Cerca de dois anos depois do final da guerra, Turing foi condenado por indecência, e sentenciado a um ano de castração hormonal, ou dois anos na cadeia. Por fim, ele optou pelo uso das drogas, assim poderia continuar trabalhando em seus computadores. No filme, os fármacos transformaram Turing em um homem depressivo, pálido e trêmulo, que não conseguia continuar seus estudos. No entanto, de acordo com Copeland, o cientista real encarou a sentença com vigor, e depois ainda viveu um ano empenhado em projetos, antes de morrer em 1954, vítima de uma intoxicação com cianeto. Quase seis décadas mais tarde, a Rainha Elizabeth concedeu o perdão real à Turing, em homenagem às suas contribuições sem precedentes.

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