O tratamento da obesidade é como um casamento
Se por um lado nem sempre há final feliz, por outro existem chances de recomeçar e se cuidar com amor, paciência e resiliência

A história da obesidade e seus tratamentos pode ser comparada a um roteiro de casamento. Nem sempre com final feliz. Às vezes, inclusive, com um divórcio.
Quando jovens, não sabemos exatamente como será a transformação do nosso corpo e quais caminhos devemos seguir, assim como acontece no amor.
Mas, em determinado momento, temos que decidir nossos destinos – o do corpo, o do parceiro e o da família.
A obesidade começa como um namoro: aceitamos as mudanças leves do corpo, ignoramos os eventuais erros e as pontuais extravagâncias. Qualquer roupa ou visual é tolerado, não levamos nada muito a sério e nos julgamos felizes.
Durante esse período de excitação, bebemos ou injetamos medicações para emagrecer, ainda que esporadicamente. Uma ou duas vezes por semana, vamos para a balada das academias, nos alimentamos mal, dormimos pouco, achamos que, por sermos jovens, seremos indestrutíveis.
Os anos passam, a disposição da juventude dá lugar ao cansaço, a obesidade começa a cobrar o seu preço e temos que definir o que queremos da relação com o nosso próprio corpo. A decisão nem sempre é fácil. Cuidar de um casamento, para que ele seja longevo e feliz, exige dedicação, paciência, resiliência, consciência, renúncia a milhões de hábitos e prazeres, mas principalmente amor.
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Ninguém pode ou deve nos obrigar a casar ou nos cuidar. Ambas são decisões extremamente pessoais. Assim como na vida, quem convive com a obesidade encontrará diversas opções de tratamentos. E pode, infelizmente, não se interessar por nenhuma delas.
Nos consultórios e clínicas pode ser que logo seja apresentado a medicações e cirurgias com pouco efeito colateral, resultados fantásticos, mínimo sacrifício e quase ou nenhuma necessidade de dar satisfação e realizar exames. Essa história é a mais vista em filmes, mas pouco ocorre na vida real.
O roteiro mais realista é o que mostra um início com boa perda de peso, muito entusiasmo e dedicação. Tudo é felicidade, pois qualquer método utilizado em perda de peso, seja dieta, execução de atividades físicas ou tratamento médico, apresentará resultado no início, mas nem todos manterão as conquistas.
A verdade é que o acompanhamento da doença e os cuidados deverão ser diários e intensos, pois a doença é multifatorial e estará casada com o nosso corpo para sempre. Casamentos em geral também vivenciam esses mesmos “problemas”. Início eufórico, até que chegamos na rotina, o famoso dia a dia!
É nesse momento que devemos estar preocupados em cuidar para durar. São exatamente os detalhes dessa fase que farão a diferença para que o casal se mantenha unido e feliz. Não podemos deixar a delicadeza, o carinho, a atenção, as flores, as lembranças das datas importantes serem esquecidas.
No casamento com o seu corpo, ele manifestará suas insatisfações por meio das doenças, da dificuldade na hora de se vestir, locomover e viver. E, como na vida a dois, se não nos cuidarmos, tudo acabará antes do tempo.
Passada a fase inicial de bons resultados com a perda de peso, a manutenção desse relacionamento exige profunda dedicação, até porque ainda temos o agravante de a obesidade ser uma doença crônica e temos que nos conscientizar de que a ajuda de outros profissionais como médicos, nutricionistas e psicólogos fará parte da relação.
Com a chegada da nova geração de medicamentos, muitos têm optado somente em “ficar”. Não querem relações duradouras. Querem viver só o momento.
Engordam e vão para uma festa de canetinhas, ficam com várias delas e depois nem lembram o nome e a dose. Emagrecem e somente quando engordam novamente voltam ao início do ciclo.
Mas nunca se casam com seu tratamento. A obesidade, repito, é uma doença crônica. O cuidado deve ser diário, assim como as restrições, desafios e dificuldades. E, assim como no casamento comprometido, os momentos felizes e prazerosos podem superar os difíceis. Se a gente se cuidar e se amar, pode ter certeza que irá compensar.