O papa é pop – e deixa um legado de superação, cuidado e humildade
Colunista destaca as principais heranças e mensagens do pontífice que rezou sozinho na praça de São Pedro em meio a uma pandemia

O Papa Francisco se foi. Mas sua mensagem de humildade e misericórdia permanecerá entre nós.
Iniciou o seu papado escolhendo o nome em referência a Francisco de Assis, pois acreditava que a Igreja deveria se manter perto dos pobres.
Sua saúde há muito era frágil, o que já demonstrava o seu corpo, mas não a sua alma. Na juventude, perdeu parte de um pulmão devido a uma pneumonia. Já como o Santo Padre, sofreu cirurgias abdominais, problemas ortopédicos, respiratórios, tentativas de atentados à sua vida. Mas sempre orou pela saúde e paz mundial.
As muitas questões que envolviam pedofilia, abusos financeiros, participação das mulheres e melhor relação com as mais diversas religiões que estavam trancadas em gavetas foram abertas com a chave de Francisco, que modestamente admitiu os erros e os mitigou junto à Santa Igreja.
Dentre a lista dos preceitos da Igreja Católica, ter um olhar cuidadoso com os mais necessitados é um dos principais. E até hoje, esta mantém quase 10 mil orfanatos ao redor do mundo, 6 mil hospitais e cerca de 16 mil lares para idosos. O primeiro hospital do Brasil também é dessa comunidade e continua em pleno funcionamento: a Santa Casa de Misericórdia de Santos, fundada em 1543.
O número de Instituições de Caridade administradas pela Igreja Católica passa de 120 mil e, se ela saísse da África, 60% das escolas seriam fechadas.
Ainda assim, o Papa Francisco achava que precisávamos de muito mais.
Seu papado queria ecoar por todos os cantos que a Igreja estava de portas abertas a quem quisesse entrar.
O cuidar de alguém nunca envolveu somente medicamentos, curativos e cirurgias. E, emdossando a missão da Igreja, o Papa Francisco estava sempre nos lembrando que não podemos esquecer da alma. Há pouco, o próprio Conselho Federal de Medicina admitiu a importância terapêutica da espiritualidade.

Assim como Assis, o Papa Francisco, quando ainda podia, era itinerante e foi para cerca de 60 países divulgar o que ele acreditava. Era escutado por todos, independente da religião ou crença de cada um.
Em seus discursos, muitas vezes, nos fazia refletir sobre quais princípios e propósitos estamos vivendo. Não falo só de guerras, violência, corrupção. Falo de nós, como cidadãos desse planeta.
O que estamos fazendo para contribuir para o mundo e para as pessoas que vivem com a gente? Palavras dele: “O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é quando queremos ajudá-la a levantar-se”.
O Papa queria que a periferia entrasse no mapa, que a universalidade do atendimento englobasse a todos que precisam, que as riquezas geradas pela nobreza do trabalho humano voltassem para nós, mas não por meio da repressão a quem luta pelos seus direitos.
Ele sabia que precisava dos jovens, da energia, do sorriso, da vontade, do vigor… e fez de tudo para levar-lhes a mensagem de que vivemos uma vida real e não virtual. Empenhou-se para que eles se aproximassem em espírito e alma até o fim.
O mundo padece com o abandono do cuidado e da prevenção na saúde física e mental. “A tristeza, a apatia, o cansaço espiritual acabam dominando a vida das pessoas que estão sobrecarregadas com o ritmo de vida atual”, dizia o Papa.
Foram-se as palavras e o corpo do Santo Padre. Mas não os ensinamentos deixados, que continuarão a nos fazer refletir como se ainda pudéssemos escutar a sua voz: “Quem pensa em construir muros e não em construir pontes não é cristão”.
Em 2020, em plena pandemia da covid, o Papa Francisco rezou sozinho na famosa praça de São Pedro pela saúde mundial. Hoje, esta mesma praça recebe inúmeros fiéis que rezarão pelo seu descanso em paz por todos os séculos dos séculos.