Médicos como vinhos: o tempo e o terroir moldam a excelência
A produção de grandes rótulos e a formação de bons profissionais de medicina têm muito em comum

Médicos e vinhos. Já observaram como se assemelham? Quanto mais velhos ou mais experientes, melhores serão.
Na formatação de um bom vinho, como o de um médico, tudo se parece: a propriedade/faculdade, o enólogo/professor, tempo de barrica/estudo. E cada etapa bem executada fará completa diferença no final.
Por anos, nobres propriedades formataram seus vinhedos e lutaram para que enólogos soubessem transmitir a essência do seu vinho, como também as faculdades de medicina com os seus estudantes.
Mas assim como o aumento da demanda leva à produção de qualquer tipo de vinho, se alastram as propriedades formadoras de médicos, com vinhas jovens e enólogos que não entendem em nada a alquimia do saber.
Para o público em geral, pouco importa pagar mais barato e achar que está degustando a mesma coisa, demonstrando ignorância no assunto.
Vivencio muitas discussões do porquê pagar mais caro em determinados vinhos se são todos iguais. Poderia ficar horas debatendo sobre isso, pois é uma de minhas paixões, assim como a medicina. A terra, as vinhas, o clima, centenas de anos de misturas, experiências e estudos levam à excelência e à raridade de uma garrafa e, por ela, atribui-se um preço.
Médicos, quando nascem para esse Terroir, esperam amadurecer, fermentam seu conhecimento em barris do saber por seis anos e deveriam ser orientados por bons enólogos. Se quiserem ser vinhos de entrada, logo irão para o mercado e, obviamente, terão valores reduzidos nos seus contratos ou consultas. Outros buscam ser um Grand Cru Classe e ficam mais tempo em suas especializações. E há aqueles que entram para os Premier Grand Cru Classe, com seus anos dedicados a mestrado e doutorado com enorme dedicação para produzir ciência.
Assim como no universo das uvas, os médicos nem sempre são valorizados ou entendem essa diferente classificação e seu valor.
Hoje, vemos nas prateleiras dos hospitais, clínicas, consultórios e redes sociais uma enorme oferta de vinhos de baixíssima qualidade, mas com boa propaganda e rótulos bonitos que impressionam o paciente, o fazendo achar que escolheu a garrafa certa por um bom preço. Aliado à esse marketing, criam-se avaliações não oficiais que parecem garantir que se está bebendo algo de boa qualidade. O problema é que diferente dos vinhos que ao se enganar no produto que será consumido espera-se uma provável dor de cabeça no dia seguinte, na medicina trata-se de vidas.
É irônico imaginar que a medicina seja tão milenar quanto à produção de vinho e, ambas, de alguma forma pouco valorizadas. Apesar disso, nós, médicos, também somos objeto de discussão em mesas de jantares quando surgem os questionamentos do porquê alguns cobram mais caros que outros. Lembrem-se da história dos vinhos…