Guerra de Troia: uma história das batalhas médicas contra a obesidade
Como na mitologia, a luta dos médicos para enfrentar a doença chamada obesidade é repleta de tentativas, erros e acertos

A mitológica história que envolve batalhas, reinos, deuses e, por fim, um cavalo de madeira nos faz entrar no imaginário da doença obesidade. Por séculos, os portões do castelo dessa patologia vêm desafiando diversos reinos cirúrgicos, medicamentosos e até de estratégias que incluem caminhadas ou marchas rigorosas como as dietas de guerra. Porém, todas não passaram de ameaças, pois poucas vezes conseguiram romper as muralhas da doença.
As batalhas clínicas já envolveram diversos exércitos de medicamentos e fórmulas, mas quase todos com muitos efeitos colaterais, inclusive graves, com soldados tendo alterações comportamentais e físicas, não tolerando mais a luta e, em alguns casos, o levando à morte. As baixas foram significativas e, muitas vezes não notificadas. A falta de armamentos adequados fazia com que os médicos comandantes optassem por aquelas que tinham menos danos colaterais, mas por muitos anos fileiras de soldados padeceram com esse erro estratégico.
Os exércitos cirúrgicos marcharam por terrenos ainda mais acidentados. Começaram o desembarque em uma praia desconhecida e nela promoveram técnicas de combate que levavam os soldados a diarreias incontroláveis e enorme dificuldade de absorver os nutrientes da dieta restrita oferecida para a tropa. Abandonaram essa baía e descobriram outras que promoviam resultados seguros mas, mesmo assim, as tropas dos clínicos, que os aguardavam nas praias, tiveram enorme resistência ao avanço das cirurgias, até que por fim se tornaram aliados.
O confronto continuava e diversas armas foram sendo desenvolvidas na tentativa de romper os muros de Troia, ou melhor, da obesidade.
Os centuriões, quer dizer cirurgiões, criaram catapultas potentes com alto poder destrutivo, que inicialmente envolviam riscos, pois seus operadores estavam pouco treinados e os materiais utilizados ainda não eram os mais adequados. As principais eram as muralhas maiores, como obesidade mórbida, onde havia a necessidade de grande perda e o ataque teria que ser mais ofensivo. O foco era destruir, quer dizer, desconectar ou tirar parte do estômago, e quando se quer um “estrago” maior, fazer um desvio no intestino e, com isso, a eficiência do combate, perda de peso, é maior. Essa estratégia se mostrou eficiente, duradoura e segura, sendo adotada por exércitos do mundo todo.
Armas de menor porte e com pouca ou nenhuma eficiência foram testadas, como balões intragástricos, suturas endoscópicas e as bandas ajustáveis ao redor da parede do estômago, essas, na maior parte das vezes, eram rechaçadas pelas defesas da doença.
Cientista do império, ajudado pelos deuses das descobertas, há muito tentavam criar uma estratégia para ultrapassar os portões de Troia, o reino da obesidade, com poucos danos e perdas. Idealizaram um cavalo, ou melhor, uma caneta com micro soldados no seu interior que conseguiriam entrar nos portões do organismo obeso de forma imperceptível e, com isso, abrirem os portões da perda de peso e não mais de soldados.
Troia caiu de forma inesperada e, surpreendentemente, depois de séculos de resistência a diversos exércitos, uma nova era de tratamento surgiu nos seus jardins.
Mas uma erva daninha composta por mercenários, piratas e falsários aproveitando-se da abertura dos portões penetrou nas vielas da cidade tentando mudar o rumo da guerra, que agora não é mais mitológica, é real. Caberá a nós que sejam retirados do nosso jardim.