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Trabalho premiado

Quem disse que não podemos conciliar vida pessoal e profissional?

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 ago 2024, 09h28 - Publicado em 9 ago 2024, 06h00

Peço licença para fazer uma reflexão a partir de um acontecimento pessoal. Acabo de receber uma homenagem do Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília. Não é por vaidade que trago esse episódio, mas porque me honra e emociona participar de uma celebração ligada ao mundo profissional. Talvez nunca na história humana o trabalho tenha sido tão central. Ele sempre foi, sim, indispensável à existência. Mas, do século XX em diante, para mais e mais pessoas tornou-se também o principal espaço de realização.

Não sou exceção. Para mim, contudo, a atividade profissional foi além da concretização de objetivos. Foi também nela que encontrei a saúde. E, num apaixonado vaivém, a saúde se tornou o cerne do meu trabalho.

Tenho a sorte de poder viver aquilo que prego. No entanto, essa não é a realidade da maioria. Muitos são os que vivem a realidade descrita nos versos iniciais de Elegia 1938, do poeta Carlos Drummond de Andrade, aqueles que falam de trabalhar “sem alegria para um mundo caduco”.

Não precisa ser assim. Se o trabalho me motivou a manter hábitos saudáveis, hoje parte importante do que faço é mostrar que cuidar do corpo é trabalhar melhor. Isso é especialmente importante quando pensamos que, em pesquisas de opinião, um dos motivos mais frequentes para não se cuidar é a falta de tempo. Por causa do trabalho!

“Foi na atividade profissional que encontrei a saúde. E, num vaivém, a saúde se tornou o cerne do meu trabalho”

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Cuidar do corpo não é roubar tempo do emprego. Basta pensar que fazer da saúde física uma prioridade traz mais concentração, criatividade e memória, ajuda a aprender mais rápido, a experimentar menos cansaço mental e, por fim, a se sentir menos estressado. Trata-­se, portanto, de premiar o trabalho com o nosso melhor.

Não é achismo. Décadas de estudos comprovam. Já há dez anos pesquisadores de Leeds, na Inglaterra, examinaram o efeito do exercício sobre funcionários que tinham acesso a uma academia no escritório. Ficou claro que, quando frequentavam o espaço, se sentiam mais eficientes e produtivos, além de mais tranquilos no trato com os colegas. Mais ou menos na mesma época, eu já expunha essa convicção quando era chamada a falar em empresas sobre o equilíbrio entre saúde e trabalho.

Numa dessas ocasiões, fui convidada a dar uma palestra aos operadores de uma companhia de energia. O estresse desses funcionários é comparável ao dos controladores de voo, por exemplo. Afinal, uma pequena desatenção pode deixar às escuras cidades inteiras. Eles experimentavam um fenômeno comum em ambientes de trabalho tensos: comiam demais e, pior, diante do computador. Felizmente, os gestores estavam atentos aos malefícios dessa combinação e promoveram o programa de alimentação saudável do qual fui madrinha.

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É muito importante que o ambiente de trabalho seja propulsor do cuidado com o bem-estar. No “mundo caduco” do poema de Drummond, “as formas e as ações não encerram nenhum exemplo”. E exemplo é algo de que nós, seres sociais que somos, precisamos. Se nossos colegas se engajam em metas de qualidade de vida, puxam o interesse dos demais. É com o corpo que tudo começa. Ele é a nossa casa e, não importa a função que desempenhamos, nosso primeiro e mais cotidiano instrumento de trabalho. Sem olhar para ele, todo o resto é inútil.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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