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Coluna da Lucilia

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Pequena e poderosa

A riqueza milenar da azeitona

Por Lucilia Diniz
Atualizado em 21 nov 2024, 23h01 - Publicado em 21 nov 2024, 17h06

Na mais populosa das ilhas gregas, vive a testemunha ancestral de um saber antigo. Sua idade é incerta, mas estima-se que gire em torno de 3.000 anos. Falo da oliveira de Vouves, de cujos galhos retorcidos ainda nascem frutos. Suas raízes, há milênios fincadas no solo de Creta, se entrelaçam com uma cultura que moldou civilizações inteiras.

Já faz mais de 6.000 anos que as primeiras oliveiras surgiram na região que hoje denominamos Levante. Países como Israel, Síria e Turquia são os berços originais dessa árvore resistente, cujas finas folhas de verde-prateado pintam as paisagens até hoje.

Mas provavelmente foi lá em Creta mesmo que o seu fruto se domesticou. Isso porque, como é muito comum na história dos alimentos, a versão selvagem não era lá essas coisas. A azeitona primitiva era pequena, amarga e cheia de caroço, muito diferente das variedades carnudas que conhecemos hoje.

Com a seleção dos espécimes mais polpudos, foram-se criando novas variedades – hoje há cerca de 1.500 no mundo. É verdade que, mesmo depois de tanto aprimoramento, uma azeitona “in natura”, recém-caída do pé, é intragável. Alguns pesquisadores sugerem que os antigos teriam notado que os frutos, quando expostos à salinidade marinha, mudavam de sabor. Assim, teriam passado a conservar as azeitonas em salmoura, que é como nós, ainda hoje, as compramos e comemos.

Os gregos, romanos e fenícios espalharam esse fruto já melhorado por suas rotas comerciais. Esses povos levaram consigo o conhecimento de como processar a azeitona para reduzir seu amargor, permitindo que ela se tornasse não apenas um alimento básico, mas também um item de troca e um marcador cultural em toda a região do Mediterrâneo.

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Sua presença resistente está registrada na história e nos mitos. Na narrativa bíblica, foi um ramo de oliveira que a pomba levou a Noé, mostrando que havia terra onde se estabelecer após o grande dilúvio. A capacidade de perdurar também fez dela símbolo de vitória. Coroas de seus ramos adornam vencedores olímpicos – nos Jogos de Atenas, em 2004, aliás, vieram diretamente da oliveira de Vouves.

Essa história tão antiga também se liga à da minha família. Em Portugal, o azeite está na base de muitos preparos, mas a própria azeitona brilha em petiscos, em pratos como a açorda alentejana ou acompanhando queijos e embutidos. É um elo poderoso com a identidade local. Minha mãe, à sua moda, não me deixou esquecer.

Quando eu era pequena, no recreio do colégio, antes de abrir o embrulho preparado por ela, eu já sabia o que continha. Era, invariavelmente, um sanduíche de azeitonas. Na época, confesso, eu esticava o olho para o lanche das minhas colegas. Hoje, repenso aquela merenda com carinho. Quanta história entre aquelas fatias de pão!

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Mesmo de forma inconsciente, movida mais por hábito que por saudade, com seu gesto ela louvava toda uma cultura. O que nutriu sua vida ela transmitiu a mim. E, anos depois, eu me vi repetindo esse ritual. Quantas vezes preparei esse mesmo lanche para repor as energias ao lado do meu marido, Luiz, após quilômetros de caminhada.

Enquanto minhas colegas mordiscavam bolos e biscoitos que talvez, então, fossem alegrar mais meu paladar de criança, eu me alimentava da tradição na qual tenho minhas raízes.

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