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Coluna da Lucilia

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O custo do cinismo

Quando o deboche e a indiferença adoecem a sociedade

Por Lucilia Diniz
27 mar 2025, 18h24

“Ser cínico faz mal à saúde”, dizia o texto que li em um jornal britânico um tempo atrás. A matéria, baseada em uma entrevista com um professor de psicologia da Universidade Stanford, falava que manter uma atitude desesperançada, ácida, corrosiva, pode adoecer. Para mim, porém, o cínico faz mal mesmo é aos demais, e não a si mesmo.

Há quem diga que o cinismo é decorrência natural de um poder de observação extremamente aguçado. Por esse pensamento, o cínico seria uma pessoa capaz de ver as coisas como são, sendo por isso superior aos demais. Daí a passar para o deboche e a indiferença com o outro, é um pequeno passo. Basta ver alguns governantes da atualidade ao redor do mundo.

Não deixa de ser irônico que o cinismo tenha nascido como uma filosofia que buscava a verdade. Conta-se que um de seus precursores mais famosos, o filósofo Diógenes de Sinope, andava por Atenas com uma lanterna acesa em plena luz do dia, buscando por um homem honesto. Acontece que outro aspecto dessa linha de pensamento era a indiferença às opiniões alheias. Por essa via, dá para entender como o “cínico” deixou de ser entendido como uma pessoa franca e que não se intimida e passou a ser visto como alguém tão autocentrado que até despreza os demais.

Com esse cinismo, convivemos o tempo todo. É cínico aquele político que minimiza em campanha a real dimensão de grandes desafios. O advogado que não dá ao cliente a real estimativa de sucesso e estica a causa a seu bel-prazer, com o relógio e os honorários correndo. A pessoa que fala e faz o que quer e, com a cara lavada, vem nos pedir desculpas – sem, no entanto, mudar de atitude.

É um mal tão comum e disseminado que, às vezes, o apontamos onde ele não está. Para ficar na minha área de atuação, penso como muitas vezes se atribui cinismo à indústria alimentícia, sobretudo quando ela age para conquistar nichos de mercado.

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Digamos que você não queira comer produtos de origem animal, mas gostaria de saborear algo parecido a um filé. Alguma concessão terá de ser feita; o gosto do seu bife vegano provavelmente virá de aditivos e, em excesso, eles não são bons. Alguns chamariam esse produto de “cínico”, no sentido de falso. Mas a composição está ali para quem quiser ler e optar ou não por esse gosto. Isso é marketing, não é mentira. Pode-se dizer até que é questionável, algo meio “me engana que eu gosto”. Mas é bem diferente de vender gato por lebre, como um verdadeiro cínico faria.

Segundo o especialista americano do artigo ao qual me referi no início, há muitos estudos mostrando que quem é cínico não só tem menos saúde física e mental, mas também vive menos. Não sei se é verdade, mas quem sofre os efeitos de suas atitudes com certeza pode ter seu bem-estar e até a sua longevidade depauperados.

De minha parte, devo confessar minha dificuldade de ter qualquer tipo empatia com os cínicos. Defendo que só um olhar generoso com o que nos rodeia, aberto e honesto com as pessoas, evita os males do cinismo para todos.

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A chave, então, é gostar da vida como ela é e aproveitá-la com sabedoria. Ao final dessas ponderações, digo que minha convicção encontra um belo resumo em uma frase do dramaturgo irlandês Oscar Wilde. Em uma de suas peças, ele definiu o cínico como “alguém que sabe o preço de tudo, mas não conhece o valor de nada”.

 

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