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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Einstein Hospital Israelita

Saúde ocular: inclusão, dignidade e produtividade

Um plano nacional pode transformar a prevenção e o tratamento de doenças oculares no SUS

Por Claudio Lottenberg
29 ago 2025, 10h37

A saúde ocular no Brasil requer atenção urgente. Estima-se que haja 1,5 milhão de brasileiros cegos, número que sobe para 6,5 milhões quando incluídos os casos de pessoas com baixa visão. Esse montante, que já é expressivo, tende a crescer em duas frentes: de um lado, como consequência do envelhecimento populacional e, de outro, como um efeito colateral do estilo de vida moderno, que afeta cada vez mais os jovens. Ao mesmo tempo, o sistema público de saúde tem problemas estruturais, que podem comprometer sua capacidade de enfrentar esse cenário.

Entre as principais causas de perda visual estão a catarata, os erros refrativos não corrigidos (miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia), o glaucoma, a retinopatia diabética e a degeneração macular relacionada à idade. Todas essas doenças têm tratamento eficaz desde que diagnosticadas precocemente. Estudos já atestam que a maioria dos casos poderia ser identificada em uma consulta oftalmológica completa na atenção primária, evitando seu agravamento. No entanto, a oftalmologia não está estruturalmente integrada à atenção básica, sendo gerida pela Coordenação de Média e Alta Complexidade.

Isso significa que, na prática, o usuário entra no sistema pela UBS (Unidade Básica de Saúde), onde é atendido pelo médico de família, que, se necessário, o encaminha para o especialista. O paciente é submetido a uma longa jornada até que possa realizar um exame de refração e, além disso, os hospitais acabam sobrecarregados com demandas simples como essa, atrasando o atendimento de casos mais graves. Os problemas não param por aí.

Embora o Brasil tenha mais oftalmologistas do que o mínimo recomendado pela OMS, 74% deles atuam em grandes cidades, enquanto apenas 0,3% estão em municípios com menos de 100 mil habitantes. A concentração de profissionais nos grandes centros urbanos e, consequentemente, a desigualdade regional e a escassez de atendimentos em áreas periféricas e rurais compõem um quadro que exige mudanças estratégicas.

A inclusão do oftalmologista na atenção primária, permitindo consultas básicas, exames e prevenção de doenças evitáveis, seria um necessário aprimoramento das equipes de saúde da família. Nesse sentido, é bem-vinda a criação do Plano Nacional de Saúde Ocular, um conjunto de diretrizes propostas pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, que inclui triagens regulares, campanhas educativas, ampliação da rede especializada e melhor distribuição de profissionais.

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Hoje, cada vez mais, a medicina tem enfatizado a importância da prevenção e do rastreio precoce de doenças. Enquanto outras áreas médicas lidam diretamente com riscos à vida, a oftalmologia lida com riscos à autonomia, à dignidade e à participação social. Uma pessoa que perde a visão enfrenta barreiras na educação, no trabalho, na mobilidade e até na saúde mental. Isso faz da prevenção na oftalmologia mais que uma questão clínica. Some-se a isso o fato de muitas das doenças oftalmológicas serem silenciosas ou subestimadas até que se manifestem em estágios mais avançados.

A miopia, por exemplo, pode trazer consequências significativas se não for bem acompanhada e tratada. Ela vai muito além de prejudicar a visão de objetos distantes, sobretudo quando o grau é elevado ou progride rapidamente. Sem tratamento adequado, a doença avança até se tornar miopia alta, podendo acarretar consequências graves, como catarata precoce, glaucoma, degeneração macular miópica ou descolamento da retina. Quanto mais avançado o quadro, mas difíceis e menos efetivos os tratamentos.

Fato preocupante é o aumento acelerado de casos de miopia entre crianças e adolescentes, o que se explica, principalmente, pelas demandas do estilo de vida urbano. Estudos têm mapeado globalmente a elevação de casos na população jovem, que pode chegar a 40% até 2050. Embora existam fatores genéticos a considerar, o uso intenso de telas, com luz artificial, e a baixa exposição à luz solar estão no centro do problema.

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Entre jovens de seis a doze anos de idade, esses hábitos podem trazer sérios prejuízos à saúde ocular, pois, nessa fase, o cérebro e os olhos estão em processo de maturação. Pode-se dizer que as conexões entre o olho e o córtex visual (no cérebro) estão sendo estabelecidas e refinadas. O esforço visual constante em curta distância, típico de quem está diante do celular, estimula o crescimento anormal do globo ocular, deslocando o foco da imagem.

Além disso, a falta de luz solar reduz a liberação de dopamina na retina, que é importante, pois esse neurotransmissor inibe o alongamento excessivo do globo ocular, principal causa anatômica da miopia. A luz natural é mais intensa que a de ambientes internos, ajudando o olho a crescer nas proporções certas, a manter o foco da visão exatamente sobre a retina e a reduzir o esforço de acomodação.

Se a miopia se instala nessa fase da vida do jovem, o risco de agravamento até a vida adulta é alto. Estudos mostram que a prevalência de miopia se elevou drasticamente nas últimas décadas – e projeções indicam que mais de 50% da população mundial será míope até 2050. É, portanto, essencial deter a sua evolução a partir do diagnóstico precoce.

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Para isso, no caso brasileiro, é importante facilitar o acesso a consultas, exames e cirurgias oftalmológicas no Sistema Único de Saúde (SUS), superando o crônico problema da burocracia e das longas filas. Sabemos que, embora existam protocolos bem definidos, o acesso aos profissionais e aos serviços continua sendo o principal obstáculo.

Entre as propostas que vêm sendo discutidas estão a descentralização do atendimento, a capacitação das equipes da atenção básica, a organização de mutirões itinerantes, o uso de telemedicina e a integração entre os níveis de atenção com prontuários eletrônicos.

No âmbito do programa “Agora Tem Especialistas”, vem sendo levado atendimento oftalmológico a áreas carentes, como localidades remotas e comunidades indígenas, por meio de ações móveis. Algumas cidades já realizam consultas em escolas, detectando precocemente problemas de visão em crianças. Há também iniciativas que utilizam inteligência artificial para analisar imagens da retina e identificar doenças silenciosas, como a retinopatia diabética.

É importante que as ações sejam coordenadas e incorporadas à estrutura do sistema por meio de um plano nacional capaz de garantir que enxergar bem não seja um privilégio, mas um direito de todos. Investir em saúde ocular é investir em inclusão, dignidade e produtividade.

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