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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Einstein Hospital Israelita

Atenção primária deficiente gera desperdício e sofrimento evitável

Grau de eficiência da porta de entrada do sistema impacta toda a cadeia da saúde

Por Claudio Lottenberg
24 jul 2025, 17h12

Recentemente, veio a público a notícia de que, no Brasil, a cada três minutos, uma pessoa é internada em decorrência de complicações de doenças que poderiam ter sido tratadas na atenção primária antes que se agravassem.  A informação alarmante é parte de uma pesquisa liderada pela Umane, associação civil de apoio a iniciativas de promoção da saúde, realizada com base em dados disponíveis no DataSUS. Segundo o levantamento, em 2024, houve 1,6 milhão de internações no sistema público em consequência de diabetes tipo 2, hipertensão, deficiências nutricionais, asma e outras doenças respiratórias, o que representou 11% do total de todas as internações no ano.

O papel da atenção primária é exatamente o de cuidar da saúde da população, atuando na prevenção e no monitoramento de doenças a fim de evitar quadros clínicos mais graves. Seu uso eficiente garante qualidade de vida para o paciente e, ao mesmo tempo, contribui para a redução de custos desnecessários, de modo que o sistema tenha recursos disponíveis para oferecer tratamentos mais complexos aos que deles realmente precisam. Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), esse primeiro nível de cuidado pode solucionar mais de 80% das necessidades de atendimento médico de uma pessoa ao longo da vida.

Sabemos que, com o envelhecimento da população, a tendência é o aumento crescente da demanda por serviços de saúde. É, portanto, crucial que a atenção primária esteja apta a receber e a orientar os idosos a fim de rastrear os primeiros sinais das doenças e oferecer diagnósticos precoces. Dados do levantamento da Umane revelaram que pessoas com mais de 55 anos de idade representaram a maior parte das internações que poderiam ter sido evitadas com ações de prevenção. Nessa fase da vida, aumentam os riscos de desenvolver hipertensão e diabetes, moléstias que, nos estágios iniciais, podem ser controladas mediante dieta e atividade física. Esse tipo de orientação é uma das tarefas da atenção primária.

Na faixa etária dos 15 aos 44 anos de idade, de acordo com a pesquisa, foi bem maior o número de mulheres que o de homens que precisaram de internação, o que pode estar ligado a complicações na gestação ou a doenças dos órgãos reprodutivos. Vale lembrar que o pré-natal e a vacinação contra o HPV, que previne o câncer de colo de útero, também fazem parte dos serviços de atenção primária. Campanhas educativas são fundamentais para que a população como um todo mantenha a vacinação em dia, o que, naturalmente, deve ser acompanhado da disponibilidade de doses nas unidades de saúde.

O estudo também revelou que as falhas na atenção primária se agravam nas áreas periféricas das cidades e dos estados, onde faltam médicos, enfermeiros e agentes comunitários. Além da sabida má distribuição de profissionais no território nacional, outras deficiências, como a infraestrutura precária, as longas filas de espera e a burocracia, contribuem para gerar percepção negativa do sistema entre seus usuários.

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Esses fatores, em conjunto, acabam, indiretamente, incentivando a automedicação, cujas consequências são igualmente preocupantes. O mascaramento de doenças graves, a resistência bacteriana, a dependência química e o atraso no diagnóstico correto, além de efeitos imprevisíveis dessa prática, tendem a levar a complicações que exigem tratamentos invasivos e custosos.  Quando a atenção primária não está estruturada para lidar adequadamente com a demanda, os hospitais acabam sobrecarregados e os custos do sistema se tornam insustentáveis. Em outras palavras, o grau de eficiência da porta de entrada do sistema impacta toda a cadeia da saúde.

Ao mesmo tempo, a baixa integração entre os níveis de atendimento prejudica a continuidade do cuidado, resultando em tratamentos fragmentados, em repetição de exames e, novamente, em desperdício de recursos. Soma-se a isso a falta de políticas eficazes de prevenção e de educação em saúde, o que leva não só à progressão de doenças evitáveis como também ao uso excessivo de serviços de emergência, cujo custo é alto.

Para enfrentar esses desafios, é essencial fortalecer a atenção primária com investimentos em infraestrutura, formação de profissionais e campanhas educativas. Além disso, iniciativas como a digitalização de processos burocráticos, a telemedicina e o remanejamento de médicos para áreas carentes podem otimizar o uso dos recursos e ampliar o acesso ao atendimento. Com um sistema primário bem estruturado e bem gerido, reduz-se o desperdício, evita-se o sofrimento de pacientes e de suas famílias e, acima de tudo, mais vidas são salvas.

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