Vencedor do prêmio Pulitzer narra caso de poluição ambiental que culminou com epidemia de câncer infantil
Os jurados do prêmio Pulizter, a mais prestigiada premiação de jornalismo do mundo, já divulgaram os vencedores deste ano. Na categoria livro de não ficção, o vencedor foi Toms River: A Story of Science and Salvation, de Dan Fagin. Toms é o nome de um rio localizado em Nova Jérsei, nos EUA, numa região perto da costa […]
Os jurados do prêmio Pulizter, a mais prestigiada premiação de jornalismo do mundo, já divulgaram os vencedores deste ano. Na categoria livro de não ficção, o vencedor foi Toms River: A Story of Science and Salvation, de Dan Fagin. Toms é o nome de um rio localizado em Nova Jérsei, nos EUA, numa região perto da costa onde desde os anos 1950 estabeleceram-se dezenas de indústrias. De tão poluído, o ar chegou a corroer as meias de náilon das moradoras. Na paisagem, muita fumaça colorida expelida pelas indústrias químicas, que também despejam na água seus resíduos sem tratamento. O lençol freático, de onde vem boa parte da água potável da cidade, foi contaminado, num estrago que se consolidou a partir dos anos 1970.
Essa somatória de barbeiragens ambientais teve um resultado trágico. Em meados da década de 1990, as crianças moradoras da área começaram a ser diagnosticadas com câncer, uma após outra, num aumento muito elevado se comparado a qualquer outra taxa mundial. Agências federais de saúde e meio ambiente iniciaram uma série de investigações para definir a causa da epidemia. Os indícios apontavam para um vazamento em uma das mais antigas indústrias locais, que já tinha poluído o subterrâneo e as águas do rio. A situação foi foi contida e, em 1996, essa indústria encerrou suas atividades. Nos anos seguintes, as taxas de câncer infantil começaram a cair e se mantiveram num patamar semelhante à média nacional. Desde então o governo americano passou a testar a água do Toms River rigorosamente, para evitar que novos vazamentos passem despercebidos. O problema é que, embora tenha consumido milhões de dólares, as pesquisas na região não deram respostas definitivas. Sabe-se que o vazamento contribuiu para o aumento do câncer infantil, mas provavelmente há outros fatores envolvidos. O quadro é ainda mais preocupante quando muitas das indústrias deixaram Nova Jérsei e se transferiram para a China, onde agora reside a ameaça de novos casos de incidência da doença associada à contaminação.
O tema seduziu o jornalista norte-americano Dan Fagin, 51, professor de jornalismo da Universidade de Nova York e especializado em questões ambientais. Ele trabalhou por muitos anos para o jornal Newsday. No livro, contou toda essa história não como um relato científico, mas como uma narrativa cheia de personagens e relatos emocionantes, apresentando os dilemas e as incertezas que cercaram pais, advogados, políticos e membros da indústria. O autor deu ênfase ao contexto, com uma ampla pesquisa sobre as origens industriais e seus possíveis rumos. Para o júri do Pulitzer, o mérito da obra está justamente na combinação de reportagem e pesquisa histórica. Para Fagin, segundo ele afirmou logo após vencer o prêmio, seu principal legado é tentar evitar que os erros cometidos em Toms River voltem a acontecer. Para ele, a vitória é dele também é dos que padeceram com o desastre ambiental da região, especialmente as crianças que acabaram morrendo por causa disso.
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