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Caso Volkswagen lança dúvidas sobre emissão de poluentes nas cidades em desenvolvimento

Em Nova Délhi, pior qualidade do ar do mundo, a frota a disel já representa metade do total

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2020, 00h26 - Publicado em 23 set 2015, 19h03
Paisagem esfumaçada de Nova Delhi, onde metade da frota é movida a diesel

Paisagem esfumaçada de Nova Delhi, onde metade da frota é movida a diesel

A Volkswagen admitiu haver no mundo todo 11 milhões de veículos a diesel muito mais poluentes do que o informado a consumidores e autoridades. É como se toda a população de Cuba ou da Bélgica circulasse em um carro do tipo. O escândalo fez com que o presidente-executivo da empresa, Martin Winterkorn, anunciasse sua demissão hoje, depois de oito anos à frente da montadora alemã. Estrago feito, fica difícil saber qual a pior parte dele, a dúvida lançada sobre o cumprimento de normas ambientais mundo afora ou as milhares de pessoas que vêm sendo intoxicadas por uma quantidade de poluentes muito maior do que a aceitável.

O aumento global da frota de automóveis é efeito do processo de urbanização e do crescimento das cidades, e as nações em desenvolvimento vivem esses processos num ritmo muito mais acelerado. Se houve falta de controle da Volkswagen, uma das maiores multinacionais do mundo e comprometida com as rígidas normas europeias, certamente deve haver coisa muito pior em curso na China, na Índia e no Paquistão, países que se urbanizam rapidamente e de onde emergem dezenas de megacidades.

O diesel polui muito mais do que a gasolina e o álcool e está fortemente associado à incidência de doenças respiratórias, enfarto e câncer de pulmão. Atualmente, o país que mais causa preocupação sobre a poluição do ar não é mais a China, e sim a Índia. E não porque a vida dos chineses tenha melhorado. A vida dos indianos é que piorou demais. E o diesel tem tudo a ver com isso.

Em 2008, carros a diesel representavam um terço da frota de Nova Délhi. Agora, já são metade do total. A quantidade de partículas tóxicas suspensas é duas vezes maior do que em Pequim, até então o anti exemplo da qualidade de ar. Como resultado, as cidades da Índia registram os piores resultados nas medições de qualidade do ar, o que causa a morte de 116 mil indianos a cada ano. Segundo estimativa do Banco Mundial, a perda precoce da população urbana economicamente ativa representa prejuízo anual de 18 bilhões de dólares aos indianos.

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Montagem feita pela CNN mostra o céu de Pequim uma semana antes da parada militar e, abaixo, um dia depois (Crédito: Serena Dong/ CNN)

Montagem feita pela CNN mostra o céu de Pequim uma semana antes da parada militar e, abaixo, um dia depois (Crédito: Serena Dong/ CNN)

 

Sobre Pequim, uma experiência no início deste mês evidenciou que a situação dos chineses continua dramática. Em agosto, as autoridades do país colocaram em prática um programa para reduzir a emissão de poluentes e assim clarear os céus de capital a tempo da celebração de 70 anos da vitória sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial. Por duas semanas, centenas de fábricas permaneceram fechadas e metade da frota de 5 milhões de automóveis foi impedida de circular. Deu certo, e no dia da parada militar amanheceu um céu de brigadeiro. Só que menos de 24 horas depois de as atividades serem retomadas, a paisagem já estava totalmente esfumaçada.

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O escândalo da Volkswagen pode contribuir para que a fiscalização das emissões de poluentes, especialmente de veículos a diesel, se torne mais rígida. A atenção deveria ser redobrada nos países em desenvolvimento, onde controle é muito mais sujeito a falhas. Talvez mais difícil do que entender a enrascada em que a Volkswagen se meteu é compreender por que milhões de pessoas vivem expostas a essas condições e sujeitas a ter uma vida mais curta simplesmente por causa do ar que respiram.

 

Por Mariana Barros

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