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Augusto Nunes

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Valentina de Botas: Os autoritários têm pavor do humor independente

VALENTINA DE BOTAS É a volta do humor verdade, o único que merece ser levado a sério, que respeita a risada como a vaca profana que põe os cornos para fora e acima da manada do politicamente bem remunerado. É a sagrada vocação do humor à bolinação profanando os que se pretendem intocáveis. O bravo […]

Por Branca Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 00h48 - Publicado em 1 ago 2015, 20h34

VALENTINA DE BOTAS

É a volta do humor verdade, o único que merece ser levado a sério, que respeita a risada como a vaca profana que põe os cornos para fora e acima da manada do politicamente bem remunerado. É a sagrada vocação do humor à bolinação profanando os que se pretendem intocáveis. O bravo país de Israel não é apenas uma linda e preciosa ilha de democracia cercada de ditaduras e governos facinorosos, é também um país, erguido no deserto, com maior consumo per capita de peixe do que Cuba, a ilha cercada pelo mar e pelo regime totalitário que limita a pesca temendo que os pescadores cubanos aproveitem a amplidão do mar e o chamamento da liberdade para escapar do paraíso caribenho de onde é proibido sair.

Em 25 anos de existência do muro de Berlim, mais de cem pessoas morreram tentando fugir daquele paraíso imposto aos alemães orientais.No desespero de quem arriscou tudo pela liberdade ou libertação, o pior não era morrer para quem não se sentia vivo. Acredito que ninguém fez o trajeto inverso, afinal, o homem é bicho que só é gente se for livre.

Talvez a voluntária direção contrária fosse inédita até o florescimento dos humoristas a favor que, de livre e bem paga vontade ou por primitivas convicções ou pela soma de tudo, trancam-se em um obscuro território mental da república dona das divinas tetas, gozando da cara do país que esperou tanto por liberdade, e pariram o aberrante humor a favor em cópula com o desavergonhada e politicamente correto.

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Então, porque Lula foi operário por algumas horas, é nordestino que envergonha qualquer brasileiro decente; e porque a presidência é ocupada por uma mulher nada sapiens, qualquer piada com eles era demófoba ou misógina. Só rindo. No peculiar mau humor paranoico e de dentro de suas mentiras transparentes e verdades secretas, os autoritários têm pavor do humor independente.

O humor politicamente correto, além de não prestar como humor, tem de decidir quem decidirá o acerto e o erro. Tentação autoritária de um humor encolhido, todo certinho, cheio de prosopopeias, uma coisa murcha e morta abocanhada por uma boca desdentada. Tem graça só para os caras mamando o leite bom na república imbecil e imbecilizante em que ironia tem de vir com manual de instrução.

O que houve com o Brasil?, que diabos, meu Deus do céu! Lembrando que inclusive o diabo e Deus (e falo como cristã, mas poderia não ser e ter o direito à mesma opinião) podem ser engraçados se tratados pelo humor munido de tudo o que ele precisa: cornos profanos e dentes. E há o humor canalha, sórdido, chulo – outra porcaria. Diverte só aos perversos.

Mas eu também sei ser careta: aos abusos, que se responda com a lei, que eventuais ofendidos recorram a ela por reparos morais e o que mais couber. O vigor dos chargistas que dignificam a linhagem de Millôr prova que, mesmo que rir talvez não seja um remédio, é muito mais divertido.

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