Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Teratologias

O Supremo enfrenta aquilo que nas mesas de bilhar se chama sinuca de bico

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 30 jul 2020, 19h46 - Publicado em 26 abr 2019, 15h10

Roberto Pompeu de Toledo (publicado na edição impressa de VEJA)

A queda do Supremo Tribunal Federal a seu maior nível de desprestígio é um alento caído do céu às hostes bolsonaristas: estes os resultados das operações que, em nome da Corte, levaram nos últimos dias à censura da revista virtual Crusoé e à repressão de certos protagonistas da guerrilha anti-STF nas redes sociais. Ambas as medidas realizaram-se no quadro das investigações ordenadas pelo presidente do colegiado, ministro Dias Toffoli, e levadas a cabo pelo ministro Alexandre de Moraes, para coibir manifestações “falsas, caluniosas, difamantes e injuriantes”, e tiveram resultados tão opostos ao pretendido que incumbe agora ao STF encontrar saída honrosa para a embrulhada. A Bolsonaro, aos Bolsonaros e ao bolsonarismo sobrou a sensação de que podem até prescindir do cabo e do soldado. O Supremo arrisca desarticular-se sozinho.

Duas camadas de conflitos superpostos contribuíram para esse resultado. A primeira é a guerra intestina entre os integrantes da Corte, expressa pelo placar de 6 a 5 nas disputas em plenário quando o assunto tem a ver com a Operação Lava-Jato. No último 6 a 5 a maioria decidiu, em março, mandar para a Justiça Eleitoral os crimes conexos ao caixa dois, como corrupção. Considerada favorável aos réus, a decisão acirrou os ultraexcitados ânimos nas redes e levou o presidente Toffoli a abrir investigação a respeito, nomeando Moraes para conduzi-la. A segunda camada é o conflito latente entre o tribunal e os vencedores das eleições, no Executivo e no Legislativo. Da proposta de Bolsonaro, ainda na campanha, de aumentar o número de ministros à ameaça no Congresso de uma CPI dos tribunais superiores, a animosidade veio num crescendo. Prova de que o STF sentiu o clima foi a decisão de adiar o julgamento sobre a legalidade da prisão dos condenados em segunda instância. O 6 a 5, desta vez, tendia para a ilegalidade. E daí — Lula solto? No ambiente que hoje convulsiona o país? O julgamento será remarcado, pode-se apostar, para as calendas gregas.

A investigação encomendada por Toffoli foi um gesto de bravura apoiado em pés de barro. Juristas acusaram em peso o disparate de, ao encetá-la, o STF arvorar-se, a um tempo, em investigador, acusador e juiz. Para recorrer a palavra do gosto dos magistrados, caiu-se numa situação teratológica, do ponto de vista das leis. “Monstruosa”. Como disse a professora Eloísa Machado de Almeida, da FGV-SP, ao site Uol, “o direito e as ferramentas do direito explicam muito pouco dessa realidade”. Acresce que a nomeação de Moraes foi decisão pessoal de Toffoli, não fruto do necessário sorteio entre os ministros. Se o direito é insuficiente para explicar tais anomalias, só recorrendo à política — a interna, do STF, e a do mundo exterior.

A censura à revista, para acrescentar o toque de interesse pessoal que faltava ao enredo, se deu por causa da notícia de uma menção a Dias Toffoli (sem acusá-lo de nada) nas delações da Odebrecht. Os Bolsonaros, logo eles, que tão conflituosa relação vêm mantendo com a imprensa, protestaram. “Minha posição sempre será favorável à liberdade de expressão, direito legítimo e inviolável”, tuitou o presidente Jair. “A censura à Crusoé apenas contribui para reduzir o já baixo índice de credibilidade do STF perante a sociedade”, manifestou-se, com explicitude, o filho Eduardo. O presidente mostrou a mesma pronta adesão à boa causa que esteve ausente no caso do assassinato do músico Evaldo Rosa por soldados do Exército.

O Supremo enfrenta aquilo que nas mesas de bilhar se chama sinuca de bico. Se a investigação criada por Toffoli vier a ser apreciada pelo plenário, o presidente correrá o risco de ser desautorizado. Do lado bolsonarista, o enfraquecimento do STF inscreve-se em propósitos que vão além do episódio dos últimos dias. Recorde-se das palavras do presidente em Washington: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa, desfazer muita coisa, para depois começar a fazer”. O inimigo do bolsonarismo puro, o autêntico, o de raiz, vai além da esquerda; ou, por outra, considera “esquerda” algo que ultrapassa o entendimento convencional. Para o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, banqueiros são de esquerda. O jovem assessor da Presidência Filipe Martins, fiel intérprete do guru Olavo de Carvalho, chama de “anti-­establishment” a ala a que pertence. O bolsonarismo de raiz chama de “esquerda”, ou de “establishment”, o que, atual ou potencialmente, se interpõe em seu caminho. O STF é com certeza do establishment. É teratológico, mas na cabeça de alguns bolsonaristas periga ser também de esquerda.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.