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Augusto Nunes

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“Meu cargo, minha vida” e outras notas de Carlos Brickmann

O presidente Jair Bolsonaro age como se não houvesse ninguém no Ministério da Justiça. E talvez tenha razão

Por Carlos Brickmann
Atualizado em 4 jun 2024, 16h04 - Publicado em 18 ago 2019, 07h46

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Ao formar seu Governo, parecia que Jair Bolsonaro se escorava na fama de dois de seus ministros, ou superministros: Sergio Moro e Paulo Guedes. Bolsonaro se revelou um profundo conhecedor da natureza humana: os dois são importantes, mas a caneta presidencial é mais importantes do que eles.

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Guedes, que no mercado financeiro sempre operou com eficácia e em silêncio, passou a falar, sempre repetindo o discurso do Capitão do Time: agora, além de dar palpite na política interna de um país vizinho, chegou a perguntar desde quando o Brasil precisou da Argentina. Ele sabe a resposta, claro: desde que a Argentina é a maior importadora de carros brasileiros, desde que a Argentina dá ao Brasil US$ 4 bilhões de superávit comercial. O economista Paulo Guedes sabe o valor de US$ 4 bilhões.

Pior é Moro, que no Ministério se tornou um colecionador de derrotas. E é ótimo para aceitar desfeitas. Bolsonaro prometeu-lhe que, como o Coaf não ficaria sob seu comando, manteria o presidente indicado por ele. Em seguida, mandou afastar o citado presidente. Embora a Polícia Rodoviária Federal seja subordinada ao Ministério da Justiça, Bolsonaro disse num discurso que a mandaria suspender o uso de radares móveis (pode ser que depois tenha avisado o ministro). Em seguida, sempre sem ouvir Moro, mandou trocar o diretor da Polícia Federal no Rio. Bolsonaro age como se não houvesse ninguém no Ministério da Justiça. E talvez tenha razão.

 

O absurdo

Bolsonaro prometeu continuar lutando para acabar com os radares que monitoram as rodovias federais, reduzindo acidentes, mortos, feridos. Como não diria Bóris Casoy, isto é um absurdo. Que pensa Sergio Moro da posição do presidente, que proibiu a Polícia Rodoviária Federal de usar radares móveis? Apoia, o que seria incrível? Ou aceita, pensando em futura escolha para o STFNeste link, o que se faz na Suécia para salvar vidas.

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Lava quem?

É provável que o Moro juiz reagisse contra o pedido (vitorioso) de Flávio Bolsonaro ao STF que suspendeu as investigações sobre ele. Já o Moro ministro se manifesta por um estrondoso, retumbante silêncio. Comenta-se que a estreita relação de Bolsonaro com o presidente do STF, Dias Toffoli, tem o objetivo de tirar as pedras do caminho dos enrolados e usá-las para cobrir casos passados: Geddel, por exemplo, Lula e outros. Há fortes chances de que Lula seja solto em pouco mais de um mês, talvez com os processos anulados pelo STF — e Toffoli próximo de Bolsonaro.

 

Barbaridades…

Em discurso no Piauí, Bolsonaro disse coisas inaceitáveis: por exemplo, que os vermelhos devem ir para a Venezuela ou Cuba. Um general que Bolsonaro admira, João Figueiredo, último presidente militar, dizia que lugar de brasileiro é no Brasil. Quem discorda do Governo exerce um direito. Pode, como os fundamentalistas, ser chato, mas é chato brasileiro.

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…e acertos

Por mais que os adversários de Bolsonaro o critiquem, há ocasiões em que está inegavelmente certo. No mesmo discurso do Piauí, falou da vocação agrícola do Estado, que tem clima, terras e água, está mais perto do mercado europeu do que outros Estados e pode se transformar em polo produtor e exportador de frutas. Tem condições o que é verdade de se tornar um Estado de alta renda per capita, como um tigre asiático.

 

Barbaridades e acertos

Bolsonaro diz que o Brasil não precisa do dinheiro norueguês e alemão para cuidar da floresta amazônica, e desafia Alemanha e Noruega a fazer o reflorestamento do seu próprio território. Bobagem: os dois países fizeram isso há tempos (e cuidam também do meio-ambiente tratando todo o esgoto antes de lançá-lo nos rios e mares). Mas tem razão em outros pontos: só a Floresta Amazônica é maior que toda a União Europeia. O Amazonas preserva 94% de seu território; o Amapá, mais de 99%. O desmatamento ilegal (para o comércio de madeiras de lei, por exemplo) é nocivo e tem de ser combatido. Mas é banditismo, é questão de polícia, e de polícia bem armada que o pessoal é perigoso. Mas desmatar não é política de governo.

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Recomendação

Para quem estiver em São Paulo nesta terça-feira, dia 20, recomendo a noite de autógrafos de Marli Gonçalves, ótima jornalista com quem tenho o prazer de trabalhar há quase 30 anos (temos até gatos gêmeos, a dela a Love, o meu o Vampeta). Feminismo no Cotidiano — Bom para mulheres e para homens também, livro que mostra, com precisão e bom texto, que o feminismo é uma causa justa, será autografado na Livraria da Vila, alameda Lorena, 1.731, a partir das oito da noite. A editora é a conceituadíssima (e exigentíssima) Contexto. Estarei lá, claro. Como poderia faltar? 

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