Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

J. R. Guzzo: Zero na saída

O que se viu até o último minuto do último ato, foi Dilma Rousseff no papel de Dilma Rousseff

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h55 - Publicado em 7 set 2016, 13h56

Publicado na edição impressa de VEJA

De tudo o que houve de ruim no governo do segundo presidente da República deposto legalmente do cargo na história deste país, o pior, feitas com calma todas as contas, parece ter sido a saída. É uma alta proeza, sem dúvida, quando se leva em conta a espetacular ruindade do desempenho de Dilma Rousseff em seus cinco anos e tanto de estada na Presidência — alguém é capaz de citar, falando sério, um outro governo pior que o seu em 127 anos de República? A deposição, quando enfim chegou, na semana passada, foi uma cerimônia de encerramento perfeitamente adequada à miséria do espetáculo em cartaz. Em momentos de trauma político de primeira linha, como deveria ser a deposição legal de uma presidente da República eleita, o protocolo prevê alguns instantes de drama intenso — ou, pelo menos, uns quinze minutos de grandeza por parte de quem está sendo posto na rua. Foi o contrário disso tudo.

Na sessão decisiva do Senado Federal que acabou por cassar seu mandato, Dilma Rousseff gastou o dia inteiro que tinha à disposição para fazer sua defesa enchendo a paciência dos ouvintes com a leitura do que deveria ser a obra magna de sua carreira política — e acabou sendo apenas mais uma montoeira de afirmações desesperadamente chatas, com atividade cerebral mínima e na maior parte do tempo incompreensíveis, neuróticas ou positivamente falsas. De uma presidente à beira da desgraça pública seria possível esperar algum momento mais caprichado em matéria de “falar bonito”; imaginava-­se, talvez, que tentasse “fazer um gesto”, algo como um “saio da vida para entrar na história”, por exemplo, ou coisa parecida. Nada disso. O que se viu na prática, até o último minuto do último ato, foi Dilma Rousseff no papel de Dilma Rousseff.

“Não é 30% dos recursos da exploração”, resolveu dizer a ex-presidente a certa altura daquele que deveria ser, no seu mundo, o equivalente ao discurso de Marco Antônio no funeral de Júlio César. Que diabo “recursos da exploração” e outras miudezas desse tipo estariam fazendo num pronunciamento que pretendia tornar-se histórico? Bem, o discurso era dela — e ela tinha o direito de enfiar ali o que bem entendesse. Foi o que fez. O resultado é que essa história dos “30%” em sua fala de defesa promete sobreviver como um dos maiores clássicos do “dilmismo” em todos os tempos. Eis o que disse Dilma: “Não é 30% da receita da exploração. É 30% de 25%. Ou 30%… de 30%, portanto não é 30%. Está entre 7,5% ou um pouco mais de 12%. Não se trata de 30%”. Como de costume, a ex-presidente serviu esse angu de números com a cara brava, a voz irritada e um tom geral de impaciência; parecia que ela estava com raiva das porcentagens, coitadas. Ninguém entendeu coisa nenhuma, como sempre, mas aí é que está: Dilma Rousseff, na hora de ir embora, foi a Dilma Rousseff de sempre. A ex-presidente apareceu como ela é — e seu governo apareceu como ele foi. É essa a pessoa que nos governou até a semana passada. Não poderia dar certo.

A saída foi pior que a estada, também, quando se considera a contabilidade final da cassação. Não é fácil para ninguém, claro, ser demitido da Presidência da República. Mas demitido por 61 a 20? É, de novo, uma surra com cara de Brasil e Alemanha na Copa de 2014 — e que, por sinal, mostra a perda de tempo sem limites que foi levar a sério o noticiário sobre “placar apertado”, as capacidades sobrenaturais de Lula para “virar a votação” e outras bobagens do mesmo tipo. O que o painel de votação do Senado mostrou na vida real é que Dilma não conseguiu encontrar mais que vinte senadores, num total de 81, dispostos a absolvê-la dos crimes de fraude fiscal pelos quais perdeu o mandato. Como governar o Brasil desse jeito?

Some-se a isso, para completar, o “apoio das ruas” que deveria salvar o mandato de Dilma e o seu “projeto de sociedade” — e com o qual, no discurso em modo de rancor extremo que fez após a condenação, Dilma ameaça guerrear o governo legítimo que lhe sucedeu. Todo esse apoio somou um grande zero. Na hora suprema da resistência, o máximo que conseguiu mostrar foi uma fileira de pneus queimados atrapalhando o trânsito de uma avenida em São Paulo. É um retrato que combina perfeitamente com um governo em ruínas. Dilma deixa a mais demorada recessão que a economia do Brasil já conheceu, 11 milhões de desempregados e uma destruição sem paralelo no patrimônio público — a começar pela Petrobras, privatizada em favor da corrupção confessa e contabilizada. Combina, sobretudo, com aquilo que esse governo realmente foi — uma minoria.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.