Imagens em Movimento: Um sucesso em alta velocidade na era pré-YouTube
SYLVIO DO AMARAL ROCHA Imagine um curta-metragem visto por mais de 11 milhões de pessoas em apenas quatro meses. Imagine também que o filme desencadeia uma febre mundial, impulsiona a carreira de um astro de Hollywood, tem sete sequências que consomem um total de 25 milhões de dólares e conta com a presença de atores […]
SYLVIO DO AMARAL ROCHA
Imagine um curta-metragem visto por mais de 11 milhões de pessoas em apenas quatro meses. Imagine também que o filme desencadeia uma febre mundial, impulsiona a carreira de um astro de Hollywood, tem sete sequências que consomem um total de 25 milhões de dólares e conta com a presença de atores e diretores consagrados. Depois, imagine que isso foi feito exclusivamente para a web numa era pré-YouTube. Pois é tudo verdade.
Para melhorar a imagem e aumentar o volume de vendas, a BMW encomendou a uma agência de publicidade “algo cinematográfico”. A primeira proposta foi fazer um filme de aproximadamente 60 minutos, protagonizado por um herói que salvasse pessoas ao volante de veículos da fábrica. A sugestão de transformar em curtas-metragens partiu de David Fincher, produtor executivo da Anonymous Content, produtora que realizou a empreitada. Ele usou como argumentos a maior agilidade nos downloads (não era possível assistir em streaming) e a facilidade para cooptar atores famosos. Assim, optaram por cinco curtas. A divisão do orçamento ─ 90% para a produção e 10% para mídia ─ foi considerada à época um fator de alto risco. Depois do lançamento, em 2001, as vendas da BMW aumentaram cerca de 15% em relação ao ano anterior. O sucesso estrondoso fez com que uma segunda temporada fosse lançada em 2002 com mais 3 filmes.
Na série “The Hire” (O contratado), o ator Clive Owen é The Driver (o motorista), responsável por transportar todo tipo de mercadoria de seus clientes. No primeiro curta (assista abaixo), Embush (Emboscada), de John Frankenheimer, Owen carrega um homem que afirma ter engolido 2 milhões de dólares em diamantes – claro que the driver só fica sabendo desse detalhe quando um grupo fortemente armado aparece para reivindicar a carga. O ritmo do curta é alucinante.
Depois de Frankenheimer, vários diretores, entre eles Guy Ritchie, Ang Lee, Wong Kar-wai e Tony Scott (que assina o meu episódio predileto, Beat the Devil, com o insuperável James Brown) entraram na brincadeira. Alguns desses filmes foram premiados em festivais não só de propaganda, mas também de cinema. A qualidade técnica e as narrativas são impecáveis. Valem cada segundo.