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Especialista em segurança adverte para a facilidade de acesso a armas como a que matou Santiago. Imagina na Copa

BRANCA NUNES A lista com possíveis problemas ligados à Copa do Mundo no Brasil anexou mais um item nesta semana, depois da morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, atingido por um artefato explosivo enquanto cobria as manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro. Além dos já conhecidos […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h28 - Publicado em 12 fev 2014, 18h14

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BRANCA NUNES

A lista com possíveis problemas ligados à Copa do Mundo no Brasil anexou mais um item nesta semana, depois da morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, atingido por um artefato explosivo enquanto cobria as manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro. Além dos já conhecidos atrasos nas obras dos estádios de futebol, da falência dos transportes públicos e da insegurança generalizada ─ fora o resto ─ a facilidade de acesso a artefatos explosivos letais tornou-se um fato dramaticamente palpável.

Ao analisar as imagens de TV que registram o momento em que Santiago foi atingido, Ricardo Chilelli, especialista em segurança, afirma que o artefato explosivo usado foi produzido de maneira ilegal ou caseira. Diretor-presidente da RCI First Security and Intelligence Advising, empresa de segurança privada sediada nos Estados Unidos que atua em 18 países, Chilelli considera pouco provável que o tipo de arma seja um fogo de artifício legalizado, embora ressalve que a palavra final só poderá ser dada depois do laudo pericial.

“Houve quem tenha levantado a hipótese de ter sido utilizado um rojão de vara, que chega a atingir 60 metros de altura, ou sua versão clandestina, o treme terra, com uma propulsão de 100 metros”, observa Chilelli. “Essa hipótese é falha por três aspectos. Primeiro, porque esse rojão, quando aceso sem a vara, muda de posição com facilidade e provavelmente teria girado em falso antes de explodir. Segundo, como foi colocado no chão, ele encontraria um obstáculo que o impulsionaria para cima num ângulo mais inclinado. Terceiro, a explosão de um rojão desse tipo é seca e gera uma fumaça branca, não cria fagulhas”.

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O trajeto da ilegalidade – Segundo um mapeamento feito pela RCI First, o caminho desses artefatos explosivos começa no sul de Minas Gerais e no interior da Bahia, onde se concentra a maior parte das fábricas de fogos de artifício do país. Legalizadas, as empresas mineiras são as grandes fornecedoras de pólvora branca, clorato de potássio e perclorato de potássio que, desviados por funcionários corruptos, acabam caindo nas mãos de fabricantes clandestinos e artesanais. Já na Bahia, para cada fábrica legalizada existem três ilegais. Justamente por isso os produtos são de baixa qualidade e as exportações para o resto do Brasil limitam-se à pólvora negra, de menor poder destrutivo.

Parte desses produtos desviados vai para fabricantes clandestinos especializados em fogos para baloeiros. Outros são usados em artefatos caseiros. Segundo Chilelli, a periferia de São Paulo abriga mais de 80 dessas lojas ilegais. Em 20% das legalizadas, é possível comprar material ilícito. No Rio de Janeiro existem 55 lojas clandestinas ─ e 23% das empresas legais vendem produtos por baixo do pano. Mais de 95% desse material vêm da Bahia e do sul de Minas.

“Para fazer os artefatos encontrados com torcidas organizadas são usados, por exemplo, tubos de PVC, gomos de taquara e bolas de snooker ocas”, explica Chilelli. “É possível causar grandes estragos misturando clorato de potássio a outros ingrediente simples. A própria loja ensina a fabricar ou entrega o produto pronto. Também é fácil encontrar a receita na internet”.

Em uma página do Facebook, por exemplo, há não só a receita de uma bomba caseira, como dicas de onde conseguir os ingredientes: cano de PVC, pavio de bombinha ou de rojão, pavio cordão, pólvora explosiva, fita isolante, fita silvertape, cola e durepox ou massa de vidro estão entre os materiais.

Copa do Mundo – “Existe uma preocupação crescente das agências de inteligência internacionais com o que está acontecendo no Brasil, principalmente com a aproximação da Copa do Mundo e das Olimpíadas”, conta Chilelli. “Está cada vez mais fácil o acesso a armas, munição e explosivos”. O especialista em segurança chama a atenção para a extensão e vulnerabilidade da fronteira brasileira e para as particularidades dos países vizinhos. “Explosivos militares, como o C4, são facilmente encontrados no Paraguai, na Venezuela e no Suriname”, revela. “Nossa sorte é que a bandidagem brasileira não sabe manuseá-los”.

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Os explosivos mais comuns usados pelos criminosos brasileiros são “bananas” (com aparência semelhante a dinamites) em emulsão, de uso restrito de empresas de construção civil e pedreiras, que são desviados pelos próprios funcionários e acabam caindo nas mãos de bandidos. Primeiro, serviam para estourar muros de presídios e paredes de delegacias. Hoje, são bastante comuns na explosão de caixas eletrônicos ─ crime que, apesar de absurdo, passou a ser tratado como banal.

Na fabricação de artefatos clandestinos ou caseiros, o clorato de potássio é um dos preferidos. Há alguns anos, entraram nos campos de futebol empunhados por membros de torcidas organizadas. Agora, chegaram às manifestações de rua. “O que as agências de inteligência questionam é: se um zé mané qualquer consegue o material necessário para fabricar um explosivo da potência do que matou Santiago, imagina do que são capazes os bandidos? Imagina na Copa”.

Chilelli é especialmente enfático ao salientar que as manifestações são um sinônimo de democracia, mas observa que a infiltração de black blocs e de determinados grupos políticos transformou o caráter pacífico e apartidário que elas tinham no começo. “É preciso garantir o direito aos protestos, mas é uma atitude equivocada desarmar o policial ou retirar a tropa de choque da rua nessas ocasiões. A polícia passa uma sensação de segurança para o cidadão de bem e para o manifestante que está lá pacificamente”. O uso responsável de armamento não letal e a capacitação dos agentes de segurança para atuar em situações semelhantes são imprescindíveis para que não se repitam casos como os de Santiago ou do fotógrafo Sérgio Silva, que ficou cego de um olho depois de ser atingido por uma bala de borracha.

Nesta quarta-feira, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, entregou no Senado Federal uma proposta de projeto de lei para tipificar o crime de desordem e tentar inibir a violência durante as manifestações. Entre as definições do crime está “praticar ato que possa causar desordem em lugar público ou acessível ao público, agredindo ou cometendo qualquer ato de violência física ou grave ameaça à pessoa, destruindo, danificando deteriorando ou inutilizando bem público ou particular”. De acordo com Beltrame, um dos pontos previstos no projeto é a proibição de pessoas mascaradas em protestos.

A proibição a máscaras faz todo sentido. Embora já houvesse indícios de que os chamados black blocs carregavam artefatos explosivos caseiros e clandestinos, até a morte de Santiago não havia uma prova concreta. Segundo Chilelli, no Rio de Janeiro, de cada dez pessoas flagradas com armas brancas (facas e estiletes), coquetel molotov , tacos de basebol com pregos na ponta, ou fogos de artifício legais, sete estão com rostos cobertos. Em São Paulo o número sobe para oito.

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