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Augusto Nunes

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Elizabeth Taylor escapou por pouco do convite para o papel de primeira-dama do Brasil

Terminada a entrevista, o governador Ney Braga quer prosa. Ergue-se da cadeira de espaldar alto, contorna a mesa de jacarandá, puxa-me pelo braço e caminha para a varanda do Palácio Iguaçu. Acomodado numa das cadeiras que rodeavam a mesa pequena e redonda, aponta outra com o indicador: ─ Sente aí. Vamos falar de coisas mais […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 16h23 - Publicado em 19 nov 2009, 16h13

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Terminada a entrevista, o governador Ney Braga quer prosa. Ergue-se da cadeira de espaldar alto, contorna a mesa de jacarandá, puxa-me pelo braço e caminha para a varanda do Palácio Iguaçu. Acomodado numa das cadeiras que rodeavam a mesa pequena e redonda, aponta outra com o indicador:

─ Sente aí. Vamos falar de coisas mais agradáveis.

Naquele crepúsculo de julho de 1981, o frio de Curitiba recomendava conversas em fogo brando. Engato uma segunda e invoco a grande figura:

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─ O senhor foi muito amigo do Jânio, não foi?

Sei que sim. Em 1960, Ney Braga se elegera pela primeira vez governador do Paraná na esteira do furacão Jânio Quadros, candidato à Presidência. Eram amigos, ficaram íntimos. Embora os tivesse separado, a renúncia não revogou os laços fraternos. Naquele inverno, beneficiado pela anistia, o ex-presidente preparava a volta aos palanques. Ney estava outra vez na chefia do governo estadual.

Ao ouvir o nome do personagem incomparável, o governador ilumina os olhos escuros com a faísca da malícia.

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─ O Jânio inspirou o comentário mais cretino da minha vida ─ murmura, para em seguida contar a história ocorrida em novembro de 1960, na primeira viagem internacional do presidente eleito.

Jânio embarcou num navio cargueiro para passear na Inglaterra. Nem bem chegou a Londres, uma gripe poderosa remeteu-o ao hospital. Ali, soube que a belíssima atriz Elizabeth Taylor também estava na capital britânica para mais um filme. Para completar a favorável conjunção dos astros, Eloá ficara no Brasil. O enfermo imediatamente ordenou a um integrante da comitiva que convocasse o embaixador do Brasil para uma audiência no quarto. Ao pé do leito, nosso homem em Londres ouviu a voz imperiosa:

─ Quero que o senhor convide a senhora Elizabeth Taylor a visitar-me. Gostaria muito de conhecê-la.

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Diplomata não se surpreende com nada, mas aquela ideia soou absurda demais. E de complicada concretização: como fazer uma abordagem tão atrevida sem parecer maluco? O olhar de Jânio avisou que era uma ordem. O embaixador achou preferível arriscar-se a um papelão com a atriz a perder pontos com o futuro chefe. E foi à luta.

Outra surpresa: a superestrela de olhos cor de violeta não só não estranhou o convite como prometeu aparecer no dia seguinte. Talvez tenha achado divertido conhecer um presidente sul-americano com fama de doidão. No dia seguinte, apareceu mesmo. Os dois começaram a conversar em inglês. Em cinco minutos, Jânio já estava convidando Liz Taylor a visitar o Brasil. Em seis minutos, a proposta estava aceita. Em sete, ficara combinado que a viagem ocorreria em novembro de 1961. Jânio voltou ao Brasil em estado de graça. E passou os meses seguintes aperfeiçoando o plano de sedução.

─ O homem só falava nisso ─ sorri Ney Braga na conversa no Palácio Iguaçu. ─ Eu chegava para uma audiência de meia hora e não conseguia falar sobre as questões do Paraná mais que cinco minutos. O resto do tempo ficava para os planos sobre a viagem da Elizabeth Taylor.

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Jânio esbanjava excitação, conta o governador:

─ Novembro é quase verão ─ repetia o presidente com crescente ansiedade. ─ Vou levá-la à Amazônia, para conhecer aqueles rios enormes, passear de barco pelos igarapés. Aquilo é úmido, afrodisíaco. Ninguém resiste, Ney. Vai ser uma loucura.

Até que, na tarde de 25 de agosto de 1961, um ajudante-de-ordens invadiu esbaforido o gabinete do chefe e gaguejou a notícia:

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─ O presidente acabou de renunciar.

─ Não é possível! ─ replicou o governador. ─ Antes de novembro ele não renuncia de jeito nenhum!

Ele sorri, eu caio na gargalhada.

─ O ajudante-de-ordens deve ter achado que eu estava louco ─ diz Ney Braga.

Eu também acharia a mesma coisa, concordo. Mas não digo nada.

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