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Dois ensaios e um filme: Vargas Llosa e Bráulio Mantovani estão entre os destaques da sexta edição de Dicta&Contradicta

Não é arbitrário citar o caso paradoxal de Michel Foucault. Suas intenções críticas eram sérias e seu ideal libertário, inegável. Sua repulsa pela cultura ocidental, a única que, com todas as suas limitações e extravios, fez progredir a liberdade, a democracia e os direitos humanos na história, o induziu a acreditar que era mais factível […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 5 jun 2024, 12h44 - Publicado em 4 dez 2010, 21h22

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Não é arbitrário citar o caso paradoxal de Michel Foucault. Suas intenções críticas eram sérias e seu ideal libertário, inegável. Sua repulsa pela cultura ocidental, a única que, com todas as suas limitações e extravios, fez progredir a liberdade, a democracia e os direitos humanos na história, o induziu a acreditar que era mais factível encontrar a emancipação moral e política apedrejando policiais, frequentando os banhos gays de São Francisco ou os clubes sadomasoquistas de Paris, do que nos bancos escolares ou nas urnas eleitorais. E em sua paranoica denúncia dos estratagemas de que segundo ele se valia o poder para submeter a opinião pública aos seus ditames, negou até o final a realidade da AIDS, a doença que o matou, considerando-a como uma fraude a mais do establishment e dos seus agentes para aterrorizar os cidadãos, impondo-lhes a repressão sexual.

Escrito por Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura 2010, o texto reproduzido acima faz parte de “Breve discurso sobre a cultura”, ensaio que será publicado com exclusividade pela edição de número 6 da revista Dicta&Contradicta, que será lançada terça-feira, 7 de dezembro. Dissertando sobre assuntos que vão dos dilemas da especialização profissional aos problemas que observa na filosofia de Foucault e Derrida, Vargas Llosa acaba presenteando os leitores com uma defesa apaixonada da importância da cultura para a sociedade contemporânea – “que faz da vida algo digno de ser vivido”.

Além de Vargas Llosa, a revista traz um conto inédito de Raimundo Carrero, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2010, e o texto “Eu não sou o Capitão Nascimento”, de Bráulio Mantovani, roteirista de Tropa de Elite:

Fiquei evidentemente assustado pela maneira como grande parte do público encarou Nascimento como herói “do bem”. Espanta-me o fato de as pessoas não perceberem que as imagens e ações do filme problematizam, de maneira não-verbal, o discurso da violência enunciado pelo capitão Nascimento. As mãos do personagem tremem, o corpo fica paralisado, tudo o que ele faz para formar o soldado que vai substituí-lo no BOPE termina afastando-o da mulher e do filho recém-nascido. O personagem fracassa tremendamente na vida pessoal. O seu esforco não gera recompensa, mas punição. Tudo o que ele queria era sair da guerra para viver em paz o casamento e o filho. O que ele consegue, entretanto, é perpetuar a violência e ser abandonado.

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Lançada em 10 de junho de 2008 pelo Instituto de Formação e Educação, a Dicta&Contradicta é uma revista semestral que reúne artigos e resenhas de intelectuais sobre temas como ética, cultura e artes. Todas as edições comportam seções de filosofia, humor, análise de poemas, perfis, resenhas de livros e artigos breves sobre música, artes plásticas e cinema. A seção “O lançamento que não houve” é dedicada a obras literárias importantes inéditas no Brasil ou que precisam de maior visibilidade.

O lançamento da 6ª edição será marcado por uma conversa entre Mantovani e José Padilha, diretor de Tropa de Elite, no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, em São Paulo. Será a primeira vez, depois da estreia, em que o público poderá discutir o filme com seus realizadores.

Evento de lançamento do sexto número de Dicta&Contradicta
Local: Teatro Eva Hertz – Livraria Cultura Conjunto Nacional
Endereço: Avenida Paulista, 2073, São Paulo. Tel.: (11) 3170-4033
Quando: Terça-feira, 7 de dezembro
Horário: 19h
Entrada gratuita com entrega dos convites uma hora antes do início

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