‘Fingi que estava morto para ser levado ao IML’, diz venezuelano detido pela Guarda Nacional durante manifestação
Publicado no Globo desta quinta-feira DANIEL LOZANO, do La Nación “Relaxa, que vamos matar você. Isso é rapidinho. Vocês não são ninguém.” Juan Manuel Carrasco, de 21 anos, e Jorge Luis León, de 25, que participaram de protestos contra o governo venezuelano, relembram seu próprio filme de terror, marcado por golpes, maus-tratos e tortura. Os […]
Publicado no Globo desta quinta-feira
DANIEL LOZANO, do La Nación
“Relaxa, que vamos matar você. Isso é rapidinho. Vocês não são ninguém.” Juan Manuel Carrasco, de 21 anos, e Jorge Luis León, de 25, que participaram de protestos contra o governo venezuelano, relembram seu próprio filme de terror, marcado por golpes, maus-tratos e tortura. Os dois foram detidos pela Guarda Nacional na última quinta-feira, depois de manifestações, e ficaram presos entre 55 e 60 horas até serem levados ante um juiz.
A crueldade descrita no relato começa desde a detenção. León, Carrasco, um amigo e uma garota esconderam-se em seu carro, mas foram tirados de lá à força pela Guarda Nacional. Os agentes queimaram o veículo depois, sob total impunidade.
— Foram tantos golpes que me fingi de morto, para que me levassem ao Instituto Médico Legal (IML). Para comprovar se eu estava mesmo morto, me cutucaram com um fuzil no ânus. Me mexi, e levei outro chute — lembra Jorge Luis León.
Desde o começo, Juan Manuel Carrasco enfrentou os guardas nacionais. Nascido na Venezuela, ele tem cidadania espanhola. Abandonou os estudos e trabalhava na carpintaria do pai, até a loja quebrar devido à crise que assola o país. Um rapaz corajoso, que encarou os policiais para defender uma garota e seus amigos.
— Reclamei nossos direitos. Eles me bateram bastante, nas costelas, na cabeça, com coronhadas e até com os capacetes — conta León. — Ao chegar à sede da Guarda Nacional de Tocuyito, colocaram um cachorro na nossa frente e mandaram que ele mordesse nosso pescoço. O bicho acabou lambendo nossas feridas. Depois nos forçaram a ficar ajoelhados, e três deles começaram a jogar futebol conosco. Chutaram nossas costas, enquanto gritavam gol.