Fóssil raro no RS revela planta com esporos de 296 milhões de anos
Tecnologia moderna ajudou cientistas a descobrir como vivia e se reproduzia uma planta que existiu muito antes dos dinossauros

Pesquisadores brasileiros identificaram e reclassificaram um fóssil encontrado há décadas no Rio Grande do Sul, revelando uma planta extinta que viveu há cerca de 296 milhões de anos, no período Permiano. O achado, publicado na revista científica Review of Palaeobotany and Palynology, descreve a Franscinella riograndensis — o primeiro registro no Brasil de uma planta fóssil com esporos preservados dentro das estruturas reprodutivas.
O exemplar já havia sido estudado na década de 1970 e classificado de forma genérica, por falta de recursos técnicos para análises mais detalhadas. Com o uso de tecnologias modernas, como microscopia eletrônica e moldagem em silicone, a equipe conseguiu observar características internas preservadas, incluindo caules ramificados e esporos com formato e textura específicos, ainda “no lugar” original. Esse nível de preservação é raro e dá aos cientistas pistas diretas sobre como a planta se reproduzia e qual era sua relação com o ambiente.

Onde o fóssil foi encontrado e como foi estudado
A pesquisa foi liderada pela Universidade do Vale do Taquari (Univates), com participação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e de cientistas do instituto alemão Senckenberg. O trabalho também contou com infraestrutura do Instituto Tecnológico itt Oceaneon, especializado na recuperação de microfósseis, que aplicou protocolos específicos para extrair e analisar os esporos.
Esse tipo de achado é extremamente incomum: no mundo todo, há apenas outros quatro registros semelhantes. Ele permite conectar o registro visível da planta (como caule e folhas) com o registro microscópico dos esporos, algo essencial para entender como era a vegetação no Gondwana — o supercontinente que reunia a América do Sul, África, Antártida, Austrália e Índia — há centenas de milhões de anos. A Bacia do Paraná, onde o fóssil foi encontrado, é uma das maiores formações sedimentares da América do Sul e guarda vestígios preciosos desse passado remoto.