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AL VINO

Por Marianne Piemonte Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
As novidades, tendências e delícias do mundo do vinho sem um gole de “enochatismo”. Marianne Piemonte é jornalista, sommelière e empresária do mercado de vinhos.

Guia revela as maiores tendências dos vinhos na América do Sul

Publicado anualmente desde 1999, o Descorchados firmou-se como o maior termômetro do mercado

Por Marianne Piemonte
Atualizado em 7 abr 2025, 12h13 - Publicado em 6 abr 2025, 11h49

Foram um sucesso os dois eventos de lançamento do Guia Descorchados 2025, em São Paulo e Rio de Janeiro, realizados na semana passada. Ingressos esgotados e público cada mais vez interessado pela produção de vinho da América do Sul. Criado pelo jornalista chileno Patricio Tapia, a primeira edição da publicação foi editada 1999. Desde então, tornou-se o mais relevante termômetro para avaliar, pontuar e documentar a evolução dos vinhos na Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Peru e Uruguai.

Além das análises dos 4.000 rótulos degustados por Tapia e sua equipe, os três volumes da publicação trazem textos com temas que apontam tendências e ajudam o consumidor em suas escolhas, sempre com linguagem descomplicada, que não exige curso avançado ou glossário para saboreá-la. O meu exemplar, por exemplo, já está repleto de marcadores, lembrando os vinhos e regiões que pretendo conhecer. Tapia é jurado da inglesa Decanter e um ativista de vinhos mais frescos, com menos madeira e extração mais suave. Vinhos que falem mais sobre o lugar de onde vêm e menos de processos mirabolantes. “Houve um tempo em que as pessoas achavam que vinho bom tinha cor muito forte e escura e muita madeira. É o caso dos Cabernet Sauvignon que, de tão encorpados, dava para cortá-los com garfo e faca”, exagera. Confira aqui um vídeo com Tapia explicando os critérios do Guia:

Tive a oportunidade de participar da degustação na Associação Brasileira de Sommeliers, em São Paulo, que apresentou 19 dos vinhos mais bem pontuados do guia. A constatação é unânime: vivemos o momento da sutileza. O tempo da extração exagerada, feita com uvas super maduras e um exagero de madeira nova ficou para trás. Cada vez mais o vinhedo é o protagonista, com a geografia responsável por anunciando a procedência de um vinho (e não o processo enolológico, porque hoje há “mágica” para quase tudo).

Em 26 anos de publicação, a nota máxima de 100 pontos foi concedida em apenas quatros vezes, dois rótulos de 2024 e agora, em 2025, em um deles pela segunda vez, o Adrianna Vineyard Mundos Bacillus Terrae, 2022, da Catena Zapata. O que eles têm em comum? A delicadeza, o frescor e acidez que mostram um vinho vivo. “São produtos que têm sido trabalhados por anos por seus enólogos. Eles são frutos de longa pesquisa e compreensão dos vinhedos, agraciados por safras muito boas”, disse Tapia à coluna AL VINO.

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A seguir alguns dos destaques e tendências anunciadas pela publicação.

  1. O Uruguai tornou-se um grande produtor de brancos, especialmente da casta Albariño, que tem se tornado símbolo do país da bandeira azul celeste.
  2. A Bolívia desponta como a grande surpresa do ano e a promessa de grandes vinhos da região de Tarija, local com vinhedos em altitudes que podem chegar a 3.500 m. Isso ajuda a intensificar compostos aromáticos e produz frutas com mais acidez e frescor.
  3. O novo Cabernet Sauvignon: mais leve, delicado e até “frágeis”, como descreve Tapia, em alguns momentos. Essa novidade costumava ser o estilo de grandes chilenos nos anos 1990, mas isso se perdeu com a era dos rótulos corpulentos e amadeirados. Um grande exemplo de atualização é o Cabernet Sauvignon que levou 100 pontos este ano, o Undurraga, Altazor 2021, do Maipo. Fresco, frutado, nada agressivo, com a madeira totalmente integrada, precisa ser bastante experiente para percebê-la, com um final herbáceo típico da casta.
  4. Em todas as vinícolas revelação das regiões, cada país tem uma indicação. O fator determinante para a indicação é o vinho — e não as instalações e restaurantes estrelados. Minha surpresa foi a Bracco Bosca, uruguaia da região Atlântida, em Canelones, que tem feito um Tannat fresco e gastronômico, muito diferente daquele nossos velhos conhecidos encorpadões que só eram lembrados na hora de acompanhar carne com muita gordura.
  5. Simples e felizes: pela primeira vez o guia traz uma coluna com esse nome. Fiquei encantada com a novidade. São vinhos que segundo eles “te fazem sorrir de tão frescos, frutados e notadamente têm poucas ambições além de te agradar e refrescar numa noite de verão”. Sinceramente, há poucas coisas tão ambiciosas quanto fazer sorrir e agradar. Claro que nesta seção estamos falando de vinhos mais simples, na linguagem do vinho “mais rápidos”, talvez para o dia-dia. Vale conhecê-los!
  6. A região Sul do Brasil se consagra como a grande produtora nacional, não apenas em quantidade (80% dos vinhos finos brasileiros são feitos lá), mas em qualidade. Os espumantes, sem dúvida, são o produto de maior excelência. Na edição deste ano, levaram 95 pontos o Maria Valduga N/V, de Chardonnay e Pinot Noir, da Casa Valdura, que mesmo com 60 meses em contato com as borras, tempo que fica na cave após a fermentação, continua jovem, fresco e vibrante. O melhor tinto brasileiro ficou com a Serra da Canastra, Minas Gerias, o Sacramentos Sabina Syrah Seleção de Parcelas 2024, da Sacramento Vinifer, com o trabalho do enólogo Alejandro Cardoso. Mas acredito que aqui esteja um recado aos produtores do Sudeste que, encantados com a dupla poda, técnica que permite que a colheita seja feita no inverno e tem possibilitado a produção em Brasília, Goiás, Bahia, Minas Gerais e São Paulo, se esquecem muitas vezes que há um ingrediente nessa cultura que não se compra e é fundamental: o tempo. Mas esta é uma boa história para uma próxima coluna.
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