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A boa e velha reportagem

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Terroristas do EI são torturados pelo exército iraquiano

Na retomada de Mossul, o desafio é derrotar o grupo sem oprimir a população sunita da cidade, como mostra um documentário do The Guardian e da PBS Frontline

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 20h06 - Publicado em 4 fev 2017, 08h35

O repórter iraquiano Ghaith Abdul-Ahad é um velho conhecido dos brasileiros que acompanham de perto a cobertura de conflitos feita por veículos nacionais. Em 2011, Ghaith, que trabalha para o jornal britânico The Guardian, e o jornalista Andrei Netto, correspondente de O Estado de S. Paulo em Paris, juntos, foram os primeiros jornalistas estrangeiros a serem presos por forças leais ao ditador Muamar Kadafi durante a guerra civil na Líbia.

A mais recente reportagem de Ghaith para o The Guardian, em parceria com a PBS Frontline, é sobre a batalha por Mossul, a cidade iraquiana que há dois anos foi ocupada pelos terroristas do Estado Islâmico (grupo também conhecido pelas siglas Isis, em inglês, e Daesh, em árabe). O assunto foi tema de reportagem do fotógrafo André Liohn para VEJA no mês passado, mas vale a pena ser revisitado porque Ghaith trouxe novos detalhes relevantes. A reportagem em vídeo pode ser assistida na íntegra acima, via YouTube, ou no link da PBS Frontline.

Durante alguns meses, com intervalos entre as visitas, Ghaith acompanhou uma brigada das Forças Especiais do Exército Iraquiano, conhecida como Divisão Dourada, no lado leste da cidade de Mossul, cuja libertação do Isis foi anunciada há duas semanas. O lado oeste continua em poder dos terroristas. Quando ele entrou em Mossul com as tropas , a narrativa dos militares era de que as linhas do Isis estavam caindo rapidamente. “Mas conforme avançávamos, ficava claro que não estávamos entrando em áreas liberadas, mas em zonas de batalha”, diz Ghaith.

Algumas revelações interessantes que são feitas no vídeo:

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  • Tanto exército iraquiano quanto os militantes do Estado Islâmico usam pequenos drones no conflito. O exército vale-se da tecnologia para identificar a localização do inimigo. Os terroristas, para lançar granadas em meio a áreas povoadas. Uma dessas granadas é jogada sobre o local onde a reportagem se encontra com o comandante da brigada. Por sorte, a equipe conseguiu escapar a tempo;
  • “O futuro de Mossul e do Iraque reside no equilíbrio delicado entre derrotar o Isis sem dar a impressão à população de que o exército iraquiano é uma força de opressão”, avalia Ghaith. Ele mostra este desafio na prática ao filmar soldados buscando suspeitos do Isis em meio a população e levando-os para interrogatório e ao gravar um soldado mostrando um vídeo em que tortura um suposto militante com água fervente. O comandante da brigada, que faz questão de afirmar que orienta seus soldados a tratar os prisioneiros decentemente, diz a Ghaith: “Se você se junta ao Estado Islâmico,você não é mais humano”. Uma perigosa afirmação que pode levar a abusos;
  • A população civil é a maior prejudicada em uma guerra que ocorre de rua em rua, de casa em casa. Não há novidade nisso, mas as cenas do vídeo demonstram esse fato com perfeição. A rotina de ataques com carros-bomba é um dos exemplos. O próprio repórter sobrevive a um atentado com caminhão-bomba, do qual o produtor e cinegrafista Josh Baker sai com uma vértebra quebrada. Um soldado viu o caminhão se aproximando e avisou Ghaith, que correu para outro cômodo da casa onde estava alojado com os soldados. Se tivesse ficado onde estava, teria morrido. Os civis das casas ao redor não tiveram a mesma sorte. Muitas crianças ficaram feridas. As imagens são fortes. Em Erbil, capital do Curdistão iraquiano, Ghaith entrevista as vítimas de outro atentado com carro-bomba em Mossul. Um menino ferido está sozinho em uma maca. Seus pais ficaram para trás. Um dos sobreviventes conta como era a vida em Mossul nos últimos dois anos: “Aquilo não era vida. Era escravidão.”

Mesmo depois de derrotado o Isis, a paz não virá com facilidade para um país fracionado pelas diferenças e pelo ódio entre xiitas (que compõem a maioria do exército iraquiano) e os sunitas (que são maioria em Mossul e que em muitas localidades apoiaram o Estado Islâmico).

A luta pela liberdade está cobrando um preço alto da população.

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