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Por que a humanidade sempre teve medo de eclipses?

Historicamente, eventos como o de segunda-feira estiveram ligados ao apocalipse. Uma das razões é que eclipses recordam o caos em meio à harmonia cósmica

Por Da redação
Atualizado em 21 ago 2017, 11h47 - Publicado em 18 ago 2017, 17h43

Na próxima segunda-feira, a Lua passará em frente ao Sol, cobrindo totalmente seu brilho em algumas partes dos Estados Unidos. O eclipse solar total – o primeiro desde 1918 a ser visto de um lado a outro da costa americana – deve escurecer o início da tarde do país, enquanto no Brasil, quem está nas regiões Norte e Nordeste poderá ver o Sol parcialmente coberto no fim da tarde.

Hoje, a ciência sabe que esse fenômeno se deve a um alinhamento previsível entre a Terra, a Lua e o Sol e que não oferece qualquer perigo. Mas, durante a maior parte da história da humanidade, quando os avançados telescópios atuais ainda não existiam e todos os conhecimentos sobre o movimento dos astros no céu eram baseados na religião e no que se podia observar a olho nu, eclipses solares eram sinônimo de caos, destruição e apocalipse.

Eclipse e fim do mundo

Na Antiguidade, a maioria dos povos olhava para os céus em busca de harmonia e regulava a existência pela ordem da natureza a seu redor. Portanto, eventos como um eclipse eram vistos como uma grande intromissão de caos no equilíbrio cósmico. No século VII a.C., o poeta grego Arquíloco escreveu sobre um eclipse total do Sol, visto no Grécia: “Nada mais no mundo pode me surpreender. Pois Zeus, pai dos deuses olímpicos, transformou o dia em noite escura, escondendo a luz do Sol florescente e, agora, o terror escuro persegue a humanidade. Tudo pode acontecer.”

Em um artigo na revista do Centro Smithsonian para o Folclore e Herança Cultural, o folclorista americano James Deutsch conta que eclipses solares já estiveram ligados também a ideias como a de que um monstro que estaria devorando o Sol, punição divina ou até sinais de que o fim do mundo está próximo. No Brasil e na parte Leste do Paraguai, segundo as pesquisa de Deutsch, membros das culturas Apapocúva-Guarani acreditavam que eclipses eram causados por um Morcego Eterno ou pela Onça Celeste que devoravam o Sol ou a Lua.

“Os Apapocúva têm uma visão muito pessimista sobre o futuro do mundo; eles estão firmemente convencidos de que o fim está próximo”, escreveu o especialista. “Em pouco tempo, o Grande Deus colocará fogo na Terra, libertando o morcego e a onça que destruirão as estrelas e a humanidade.”

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Por mais que, desde o século VIII a. C., astrônomos e pesquisadores tenham desvendado o mecanismo dos eclipses, foi só no século XVII, após o desenvolvimento do método científico e da ciência moderna, que o fenômeno foi realmente compreendido. A expansão de jornais e periódicos também ajudou a desmistificar o fenômeno.

“No século XVII, na Europa, há registros de pessoas que faziam previsões terríveis sobre o eclipse, mas, pela primeira vez, também vemos artigos publicados afirmando: ‘isso é bobagem, é simplesmente o sistema solar funcionando’”, explica Edwin Krupp, diretor do Observatório Griffith, na Califórnia, nos Estados Unidos, ao site da britânica BBC.

Antigas crenças

Até hoje, contudo, há quem ainda siga antigas crenças de que eventos astronômicos como eclipses do Sol e da Lua sejam obra dos deuses. Em algumas partes do planeta, como na Índia, mulheres grávidas são proibidas de sair na rua durante eclipses, por acreditarem que estariam vulneráveis ao fenômeno.

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Há também algumas razões psicológicas que podem estar ligadas à persistência das crenças.

“Quando vemos um eclipse, nosso corpo responde ao fenômeno. Os batimentos cardíacos aumentam, há uma mudança na temperatura corporal, na respiração, as pupilas dilatam e o corpo transpira. Há uma escola de pensamento que afirma que isso ocorre porque nascemos com uma ‘compreensão física’ do mundo e, quando vemos algo que parece uma impossibilidade física – e um eclipse é como um buraco no céu – o fenômeno surpreende o cérebro, que provoca essa resposta. Todos os organismos reagem da mesma forma, mas a maneira como essa reação é interpretada varia de cultura para cultura”, explica a astrônoma Jarita Holbrook, professora da Universidade de Western Cape, na África do Sul, à BBC.

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