Perfis negacionistas ganham força sob novas regras do Twitter
Contas que propagam notícias falsas e criticam a vacinação contra a Covid-19 ganham verificação na rede social e confundem usuários
Desde que assumiu o comando do Twitter, Elon Musk impôs mudanças no sistema de verificação de contas na rede social, e o resultado tem sido confuso. Com a possibilidade de pagar um valor mensal para obter o cobiçado selo azul, perfis negacionistas, que propagam notícias falsas contestando a vacinação contra Covid-19 ganharam força nas últimas semanas.
O selo de verificação é frequentemente visto como um elemento de validação e como um atestado da qualidade das informações oferecidas. O próprio algoritmo do Twitter privilegia contas reconhecidas, fazendo com que as informações por elas propagadas ganhem destaque nos sistemas de busca e recomendando perfis. Antes esse selos eram gratuitamente oferecidos a celebridades, divulgadores científicos, jornalistas, influenciadores, pessoas com amplo alcance na rede ou usuários que compartilhavam informações de interesse público em seus perfis.
Com o selo azul, as informações falsas compartilhadas por perfis negacionistas ganham um viés de legitimidade, como se a contestação da vacinação tivesse o mesmo peso de informações científicas comprovadas. “Parece que eles estão indo no sentido errado e efetivamente ajudando a promover grupos que estão propagando desinformação antivacina e anticiência”, afirma Peter Hotez, professor de medicina no Baylor College of Medicine, em entrevista ao The Guardian.
Antes da mudança de direção, o Twitter estava envolvido em um esforço para derrubar perfis anticiência que colocassem em risco as iniciativas de vacinação ao redor do mundo. Sob a gestão de Musk, no entanto, até o sistema de moderação foi afrouxado e os relatos de discursos de ódio e compartilhamento de fake news dispararam.
Esse fenômeno traz novamente para o centro do debate público o papel das redes sociais na propagação de informações falsas. O alargamento do alcance de perfis anti-científicos, no entanto, não é um problema exclusivo do Twitter sob a gestão de Elon Musk. No Facebook, por exemplo, grupos antivacina têm criado estratégias para burlar os sistemas automáticos de moderação, usando siglas ou códigos para propagar sua mensagem sem serem detectados.