‘Momento histórico’, diz ministra da Ciência sobre repatriação de fóssil
Artefato estava exposto em museu da Alemanha e agora passará a fazer parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, no Ceará
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) realizou, nesta segunda-feira, 12, cerimônia de repatriação do fóssil do Ubirajara jubatus, primeiro dinossauro com estruturas semelhantes a penas encontrado na América do Sul. O artefato estava exposto no Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, e agora passará a fazer parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, que pertence à Universidade Regional do Cariri (Urca), na cidade de Santana do Cariri, no Ceará.
Fizeram parte da cerimônia a ministra do MCTI, Luciana Santos; o reitor da Urca, Francisco do O’ de Lima Júnior; o governador do Ceará, Elmano de Freitas; o curador do Museu de História Natural de Karlsruhe, Julien Kimmig e o encarregados de negócios da Embaixada alemã no Brasil, Marc Bogdahn.
“Aqui se expressa a tradição de colaboração entre os dois países, antes de tudo”, afirmou Elmano de Freitas. A ministra Luciana Santos descreveu o momento como histórico e, sob aplausos, reforçou a importância do retorno do fóssil ao estado do Ceará. “Agradeço as autoridades alemãs pelo esforço e sensibilidade em trazer de volta ao seu sitio um material tão precioso para a ciência e para o patrimônio histórico e cultural do Brasil.”
O fóssil do Ubirajara jubatus foi descoberto na Bacia do Araripe, manancial paleontológico que se estende por Pernambuco, Piauí e parte do Ceará, onde viveu por 110 milhões de anos e de onde foi retirado irregularmente em 1995. As negociações pela repatriação duraram dois anos e foi intermediada pela Embaixada da Alemanha, em Brasília. Participaram dos trâmites o Instituto Guimarães Rosa, órgão do Ministério das Relações Exteriores voltado para a diplomacia cultural e educacional, o MCTI, o estado alemão de Baden-Wurttemberg e o museu de Karlsruhe.
“Tenho apenas a dizer que foi uma vitória da união de instituições, pesquisadores e aficionados do patrimônio científico-cultural”, disse à Veja o curador do Museu da Urca, Álamo Saraiva. “Espero que essa seja a primeira de muitas.”
Tudo começou em 2020, quando pesquisadores europeus e mexicanos publicaram um artigo sobre o fóssil na revista científica Cretaceous Research. O trabalho foi contestado, porque, apesar de descrever as características e dar um nome tupi (senhor da lança, em português) ao fóssil, eles não mencionaram a origem brasileira do achado, o que foi o estopim para uma campanha internacional para a repatriação. As negociações começaram em 2021.
Durante a cerimônia, Julien Kimmig descreveu como “infeliz” a maneira como a publicação foi feita e se disse grato por ter a oportunidade de trazer o fóssil ao Brasil.
Quando a repatriação foi comunicada, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, emitiu nota informando que ainda não fora contactado pelas autoridades alemãs e que abria mão de receber o fóssil, para que ele pudesse ser apropriadamente destinado ao Ceará. “Ficamos muito felizes em saber que esse exemplar tão importante tenha finalmente retornado para o Brasil, de onde nunca deveria ter saído”, afirmou à Veja Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional.