Livro mais vendido na França em 2022 foi HQ sobre mudanças climáticas
Lançado no final de 2021, 'Le Monde Sans Fin' foi celebrado por sua simplicidade e criticado por defender a energia nuclear
O livro mais vendido na França em 2022 foi uma história em quadrinhos. Não admira que na pátria de René Goscinny e Abert Uderzo, os pais do fenomenal Asterix, isso tenha acontecido. Os ávidos leitores franceses transformaram Le Monde Sans Fin (Dargaud) em um sucesso editorial — mais de meio milhão de exemplares vendidos — por seu tema e por sua natureza ao mesmo tempo didática e controversa. Roteirizada pelo engenheiro e escritor Jean-Marc Jancovici, especialista em energia e clima, e desenhada por Christophe Blain, a obra versa sobre as mudanças climáticas, o aquecimento global e as alternativas energéticas renováveis que temos à disposição para reverter o quadro terrível em que nos encontramos.
Celebrado na imprensa francesa por suas qualidades, como a simplicidade com que apresenta os conceitos, Le Monde Sans Fin também foi atacado por defender a energia nuclear como a melhor opção para substituir os combustíveis fósseis. Não à toa, o jornal Libération colocou o trabalho de Janco e Blain na capa de sua edição do sábado, 14, atrelado a um editorial intitulado “Le Monde Sans Fin, quadrinho de Jancovici e Blain: surfando no fenômeno sem ser enganado”. No texto, o diário francês inclinado à esquerda defende a tese de que o álbum tem o mérito de atingir uma parcela da opinião pública que não é necessariamente sensível ao tema das questões ecológicas, embora coloque em evidência os argumentos pró-nucleares do autor engenheiro.
Para se ter uma ideia de como a HQ mobilizou a opinião pública, pouco antes do Natal, militantes ambientais se organizaram em um protesto contra a obra. Em Cherbourg-en-Cotentin, em Toulouse, Bordeaux e Paris, várias livrarias foram abordadas por falsos representantes da editora Dargaud para inserir uma falsa errata com mensagens antinucleares nos quadrinhos. No texto do falso documento, os manifestantes escreveram: “Jean-Marc Jancovici demonstrou repetidamente formidável talento para popularizar a ciência. Devemos, no entanto, reconhecer sua flagrante falta de habilidade nas ciências humanas”. A editora registrou queixa contra os autores por crime de falsidade ideológica.
É o segundo ano consecutivo que uma história em quadrinhos fica no topo da lista dos livros mais vendidos da França. Em 2021, o posto coube ao álbum Astérix et le Griffon, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, dupla que assumiu o legado de Goscinny e Uderzo. Lançado em outubro daquele ano, o álbum conquistou o primeiro lugar no ranking ao registrar cerca de 1,2 milhão de cópias vendidas em poucos meses. Da série do personagem, cujos títulos são publicados no Brasil pela Editora Record, é o único inédito por aqui.