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Industrialização reduziu pela metade número de bactérias intestinais

Consequências na saúde ainda precisam ser melhor elucidadas

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 jul 2023, 07h00

Durante a última década, a ciência tem feito muitas descobertas a respeito do microbioma, conjunto de vírus, bactérias e fungos que vivem no corpo humano sem causar doenças. Um fato é que o estilo de vida pós-industrialização é um dos grandes responsáveis por diminuir a diversidade desses microrganismos – e um estudo recente mostrou que esse impacto é ainda maior do que se imaginava. 

O artigo publicado na Cell investigou as bactérias vivendo no intestino de uma comunidade caçadora-coletora do norte da Tanzânia, chamada de Hadza. De acordo com o trabalho, esse grupo divide os alimentos com, em média, 730 espécies de micróbios, um número equivalente a mais que o dobro das encontradas em moradores da Califórnia, onde as linhagens não passam das 280

A diversidade é um fator que, por enquanto, se mostrou mais importante do que os tipos específicos de bactérias. “Isso tem a ver com o fato de que muitas doenças modernas [alergias, diabetes, asma e obesidade, por exemplo] foram previamente associadas a um número menor de microrganismos”, explica Matthew Carter, um dos autores do estudo. “Além disso, um microbioma mais diverso também é mais robusto contra a invasão de seres patogênicos.”

Além da maior diversidade, o grupo também mostrou que essas comunidades têm espécies de bactérias que, até agora, eram completamente desconhecidas para os especialistas. Ainda não está claro, contudo, se restaurar essas bactérias ou até aumentar a diversidade, pode ser positivo. “Nós não temos ideia do impacto que restaurar esse microorganismos poderia ter”, afirma Matthew Olm, outro dos coautores. 

De fato, apesar da febre dos probióticos – fórmulas farmacêuticas que contêm bactérias vivas supostamente inofensivas  – ainda se sabe muito pouco sobre os benefícios dessas linhagens e a maioria das prescrições são feitas com base em evidências muito preliminares. 

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De acordo com os autores, é pouco provável que a administração de espécies específicas tenha um peso muito grande. Isso acontece porque esses microrganismos funcionam como uma comunidade que, para sobreviver, dependem majoritariamente dos alimentos consumidos e da relação com as outras bactérias. 

É por isso que, por hora, as terapias mais funcionais são aquelas relacionadas a transplantes fecais, utilizadas de maneira muito efetiva para o tratamento de infecções intestinais, pois elas transferem uma comunidade toda de microrganismos ao mesmo tempo, garantindo uma melhor adaptação. 

Dito isso, uma coisa é certa: alimentos saudáveis são os mais benéficos. “Para um microbioma saudável, as fibras são a chave, o que quer dizer uma dieta rica em frutas, vegetais e legumes”, diz Olm. Um outro estudo do mesmo grupo também mostrou que o consumo de alimentos fermentados como kimchi, kefir e kombucha também são benéficos. Por enquanto, nada de milagres, mas a velha receita de uma boa alimentação continua sendo a melhor das prescrições.

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