Fungo recém-descoberto transforma aranhas em ‘zumbis’
Fungo encontrado em depósito de pólvora na Irlanda do Norte controla aranhas antes de matá-las, alterando seu comportamento para dispersar mais esporos

Pesquisadores britânicos identificaram uma nova espécie de fungo que modifica o comportamento de aranhas, levando-as a se exporem de maneira atípica antes de morrer. O Gibellula attenboroughii foi descoberto em um antigo depósito de pólvora da Segunda Guerra Mundial, na Irlanda do Norte, onde parasitava aranhas das espécies Metellina merianae e Meta menardi.
O fenômeno chamou a atenção da comunidade científica por seu mecanismo de ação, que lembra os fungos capazes de transformar formigas em “zumbis” — e também o comportamento das criaturas infectadas de The Last of Us. No universo do videogame e da série, no entanto, o fungo assume o controle de hospedeiros humanos para garantir sua própria propagação.
Um parasita que controla o hospedeiro
Fungos parasitas que afetam o comportamento de insetos não são novidade, mas essa é a primeira vez que se documenta um efeito semelhante em aranhas na Europa. O G. attenboroughii forma uma estrutura esbranquiçada ao redor do corpo do hospedeiro, crescendo até tomar sua carcaça. Antes da morte, as aranhas infectadas passam a se posicionar em locais expostos ao vento e à luz, algo incomum para espécies que normalmente se escondem em cavernas e locais escuros. Esse comportamento favorece a dispersão dos esporos do fungo pelo ambiente.
Pesquisadores sugerem que a manipulação pode estar relacionada à liberação de dopamina, substância associada ao prazer e à motivação. Esse mecanismo já foi observado em fungos do gênero Ophiocordyceps, que afetam formigas na Mata Atlântica brasileira. A hipótese é que o fungo induza um estado de euforia momentânea nas aranhas, levando-as a se comportar de maneira suicida.
O que se sabe até agora?
Os esporos do G. attenboroughii variam de acordo com as condições ambientais. No depósito de pólvora, onde a circulação de ar era reduzida, os esporos eram incolores e dispostos em colunas. Já em cavernas abertas, onde há maior movimentação do ar, a estrutura fúngica era menos compacta.
Apesar do efeito inesperado, os cientistas ainda não sabem se o fungo é letal para todas as aranhas infectadas ou se algumas sobrevivem após o parasitismo. Até agora, não há indícios de que a nova espécie represente uma ameaça para a biodiversidade local, mas estudos continuam para entender seu impacto ecológico.