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Estudo mostra que ciência brasileira já inova sem testar produtos em animais

Nova lei proíbe testes em animais para cosméticos no Brasil, mas pesquisa mostra que inovação sem crueldade já é realidade em laboratórios nacionais

Por Ana Percebom*, para The Conversation
21 ago 2025, 17h00


Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que proíbe o uso de animais em testes para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. A medida foi celebrada por ativistas dos direitos dos animais e também por cientistas, como a formalização de uma prática já consolidada.

Hoje, já se conhece uma ampla gama de ingredientes cosméticos considerados seguros, com dados acumulados ao longo de décadas de pesquisas. A partir dessas informações, é possível criar inúmeras combinações e inovações sem a necessidade de testar cada nova fórmula em animais. O desenvolvimento de métodos alternativos, como modelos de pele artificial, também contribui para tornar os testes mais éticos, precisos e relevantes para o organismo humano.

A nova legislação, portanto, não impede a inovação. Ela valoriza práticas que já são adotadas por diversas instituições de pesquisa e empresas brasileiras.

O papel da ciência brasileira na inovação cosmética

Em nosso Laboratório de Macromoléculas & Nanopartículas da PUC-Rio, o MN Lab, temos desenvolvido pesquisas voltadas à criação de formulações cosméticas sustentáveis, com destaque para produtos waterless – ou seja, que contém menos água. Essa é uma das grandes tendências da indústria cosmética global e responde a uma preocupação crescente com o impacto ambiental dos produtos de uso cotidiano.

Um exemplo desse esforço é o depósito recente de uma patente sobre uma emulsão concentrada voltada ao setor de cosméticos capilares. Esse tipo de formulação, desenvolvida durante o doutorado de Gabriela Fonseca, pode ser diluído pelo próprio consumidor final, conforme a necessidade. O resultado são produtos mais compactos, que reduzem a queima de combustíveis para transporte e o uso de embalagens.

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A concentração permite a performance dos produtos mesmo após a diluição pelo consumidor em casa. Além de sustentável, o consumidor ainda ganha liberdade para ajustar a textura desejada e o modo de uso do cosmético.

Nanopartículas aplicadas à beleza

Entre os avanços mais promissores está o uso de nanotecnologia para encapsular compostos de interesse e liberá-los de maneira controlada. Em um de nossos estudos mais recentes, no doutorado de Matheus Ouverney, desenvolvemos nanopartículas capazes de incorporar ativos oleosos e manter sua fluidez, com viscosidade semelhante à da água.

Isso permite que a mistura seja usada em sprays ou até em novos formatos inovadores, com alta estabilidade. O principal desafio aqui é que conseguimos esse resultado usando materiais comercialmente acessíveis, que podem ser aplicados em larga escala.

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Fotoproteção para todos

Na dissertação de Danielle Borher, estudamos formulações de fotoprotetores. Nosso trabalho avaliou como diferentes tipos de emolientes influenciam propriedades físico-químicas e sensoriais, comparando amostras com e sem filtros solares orgânicos. A pesquisa permitiu criar estratégias mais precisas para uma escolha melhor desses componentes.

O resultado é maior previsibilidade e controle das propriedades do produto conforme desejado. Isso permitirá, por exemplo, a formulação de produtos para aqueles que mais precisam, como os trabalhadores que passam o dia todo expostos ao sol. É necessário o desenvolvimento de fotoprotetores mais baratos e com textura agradável para garantir que eles se protejam adequadamente.

Cosméticos e medicamentos: caminhos cruzados

Vale lembrar que a nova lei não proíbe o uso de animais em pesquisas com medicamentos, o que ainda é necessário para avaliar a segurança e a eficácia de compostos novos. Mas isso não significa que as pesquisas com fármacos estejam desconectadas do universo cosmético.

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É comum que ingredientes inicialmente investigados para uso farmacêutico revelem propriedades interessantes para a formulação de cosméticos. E, como já foram exaustivamente estudados em relação à segurança, podem ser aproveitados com mais agilidade. Ou seja, mesmo onde ainda há uso de animais, os dados gerados beneficiam indiretamente outros setores, que agora buscam minimizar os impactos éticos e ambientais de suas inovações.

O futuro dos cosméticos está na bancada do laboratório

Portanto, a proibição dos testes em animais para cosméticos é uma consequência do avanço da ciência e da crescente preocupação com o bem-estar animal e a sustentabilidade. Graças a anos de pesquisas, hoje temos ferramentas para desenvolver produtos mais eficazes e responsáveis. E isso inclui soluções que já estão sendo gestadas em nossos laboratórios brasileiros, com apoios essenciais de agências de fomento, como a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além de parcerias com diversas empresas. Na era dos cosméticos inteligentes e mais ecológicos, o papel da ciência é central.

*Ana Percebom, Professora e pesquisadora, Departamento de Química, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

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