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Em 2017, chegamos mais perto de encontrar vida fora da Terra

'A Terra não tem nada de especial para que seja o único planeta do Universo a ter vida', diz Eduardo Janot, presidente da SBA

Por Leticia Fuentes Atualizado em 4 jun 2024, 17h15 - Publicado em 13 dez 2017, 11h00

Já é praticamente consenso entre os cientistas que não estamos sozinhos no Universo. Com mais de dez bilhões de exoplanetas (fora do sistema solar) só na Via Láctea, é extremamente improvável que nenhum deles apresente condições suficientes para abrigar vida. Não se trata apenas de opinião: a astrobiologia é um ramo crescente da ciência que se dedica, justamente, a procurar vida fora da Terra. São milhares de instituições internacionais, algumas das mais renomadas do mundo, investindo muito dinheiro e desenvolvendo alguns dos equipamentos mais modernos da atualidade para descobrir algum sinal de vida extraterrestre. E 2017 foi um passo a mais – e dos grandes – nessa busca.

“O que tem feito toda a diferença são as missões espaciais”, diz Eduardo Janot Pacheco, presidente da Sociedade Brasileira de Astrobiologia (SBA). A SBA, inclusive, é um exemplo do progresso do campo de pesquisa em 2017, especialmente no cenário nacional. A associação foi fundada em setembro deste ano, como uma forma de “tirar o atraso” do Brasil em relação aos outros países, que já possuem organizações para pesquisa em astrobiologia e programas de pós-graduação na área.

Exploração espacial

Para Eduardo Janot, o destaque do ano foi a missão Cassini, que terminou em setembro. A sonda, lançada em 1997, começou a explorar Saturno, seus anéis e suas luas em 2004. Em seu “grand finale”, como a Nasa chamou as manobras finais da espaçonave, ela mergulhou na atmosfera do gigante gasoso e continuou a enviar dados valiosos até perder completamente o sinal. Mas as maiores descobertas feitas por Cassini durante os últimos 13 anos aconteceram em duas luas do planeta, Encélado e Titã.

Na primeira, a sonda descobriu alguns jatos de vapor que saíam de cavidades na superfície do satélite, indicando a presença de um oceano líquido debaixo da camada externa. Cassini chegou a atravessar os jatos para obter informações mais detalhadas e confirmar que se tratavam de água. Já em Titã, Cassini conseguiu fotografar lagos com hidrocarbonetos (compostos constituídos por carbono e hidrogênio) na superfície da lua.

Essas descobertas foram extremamente significantes porque, como os cientistas sabem, a água é o ingrediente fundamental para a existência de vida. E os pesquisadores acreditam que, talvez, existam algumas bactérias habitando o interior das luas. “Não estamos falando de homenzinhos verdes. Mas a mistura de hidrogênio e carbono é tão boa que é possível que exista alguma forma de vida ali”, diz Eduardo Janot.

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Seres vivos

Não são só as naves que viajam espaço a fora que podem trazer pistas na busca por vida extraterrestre. Surpreendentemente, muito do que a astrobiologia usa para fazer suas descobertas encontra-se aqui, na Terra. É o caso de estudos feitos com extremófilos – normalmente bactérias ou microrganismos que vivem em condições tão extremas e pouco favoráveis que poderiam habitar outros planetas, como, por exemplo, Marte.

Esse campo ganhou grande relevância em 2017, especialmente porque diversas instituições anunciaram que estavam realizando estudos para simular as condições encontradas no planeta vermelho e observar a capacidade de sobrevivência de organismos extremófilos. É o caso da Nasa, que enviou bactérias à estratosfera em agosto, ou até de países como os Emirados Árabes, que anunciaram em setembro a construção de uma cidade inteira para imitar a superfície de Marte.

As simulações sozinhas, porém, não vão encontrar o que realmente interessa para a astrobiologia. É preciso, também, enviar uma sonda ao planeta vermelho. “Em março de 2018, vamos ter uma nova missão para Marte, chamada Insight. O principal objetivo é fazer estudos geofísicos do planeta, mas também vão avaliar se a vida lá seria possível. E, em 2010, vamos ter um lander [uma nave espacial que aterrissa na superfície do planeta explorado] só para investigar questões relacionadas à astrobiologia”, afirma o presidente da SBA.

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Futuro

O que mais esperar de 2018? Eduardo Janot diz que a participação brasileira na pesquisa por vida fora da Terra deve aumentar. No momento, a maior área de atuação do Brasil é a procura por exoplanetas – e o país deve firmar mais parcerias internacionais para continuar essa tendência.

“O Brasil está ajudando a ESA [sigla em inglês para Agência Espacial Europeia] a construir o PLATO, um satélite para busca de exoplanetas que foca em encontrar planetas dentro da zona habitável das estrelas”, diz. A zona habitável é uma área dentro de um sistema planetário que é determinada por uma distância da estrela central suficiente para possibilitar a presença de água líquida na superfície dos planetas. A previsão é que o PLATO seja lançado em 2023.

“A Terra não tem nada de especial para que seja o único planeta do Universo a abrigar vida”, brinca Eduardo Janot, mas com sinceridade. Para ele, é só uma questão de tempo até que encontremos os primeiros seres vivos além dos habitantes terrestres.

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