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Como prever terremotos? Estudo ilumina um dos enigmas mais duradouros da natureza

Começam a surgir as primeiras descobertas sobre a lenta e quase imperceptível gênese das movimentações geológicas que culminam nos estrondos

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 fev 2025, 08h00

Foram mais de 200 tremores de terra registrados no fim de semana, entre 31 de janeiro e 2 de fevereiro. A magnitude máxima foi de 4,6 na escala Richter, considerada leve. Ainda que a chacoalhada tenha despontado discreta, quase imperceptível, milhares de turistas na Ilha de Santorini, na Grécia, deixaram o paraíso, às pressas, com medo. As escolas e instituições públicas foram fechadas. Houve algum pânico, rapidamente debelado. Temia-se um tsunami, que não veio. Ao término dos episódios, uma pergunta brotou como sempre: por que os sinais de terremotos são registrados tão em cima da hora, sem que possa haver adequada preparação da população e socorristas?

Um trabalho de profissionais da Universidade Hebraica de Jerusalém, publicado pela revista Nature, deu os primeiros passos de compreensão dos momentos iniciais do fenômeno geológico — é um modo de tentar prever com a devida antecedência as agitações que nascem das profundezas. O pulo do gato foi levar em conta um fator silencioso, até agora desdenhado: as pequenas rachaduras espalhadas pelas placas tectônicas, muitas vezes ínfimas, que alimentam o abalo. Não se trata, portanto, de apenas considerar as movimentações de grandes blocos, como sempre se imaginou. As pequeníssimas falhas são indícios de ruptura iminente, como em um espelho trincado.

ESCALA RICHTER 9,5 - O abalo de 1960, no Chile: o maior da história
ESCALA RICHTER 9,5 - O abalo de 1960, no Chile: o maior da história (Keystone-France/Gamma-Keystone/Getty Images)

É descoberta que soa evidente, mas assim caminha a humanidade, de mãos dadas com a ciência. As descobertas aparentemente banais são as que mais entregam avanços. “Revelações simples nos permitem fazer progressos substanciais”, disse a VEJA Jay Fineberg, pesquisador do Instituto de Física da universidade israelense e líder da investigação. Trata-se, a rigor, de identificar a gênese de algo que parecia insignificante, dada a suposição de que trechos distantes do coração dos terremotos fossem lisos e alheios a qualquer tipo de rachadura. Olha-se, enfim, o nó central, e muito pouco os trechos ao redor, a quilômetros de distância. A partir de agora, pode ter início um novo capítulo.

As revelações foram alcançadas a partir do trabalho com experimentos reais em folhas de vidro e intrincados modelos de computador, com apoio da onipresente inteligência artificial. Do casamento de informações, testadas por cientistas de diversos cantos do mundo, como é praxe na academia e nos laboratórios, nasce uma esperança: a possibilidade de antever os acidentes com horas, dias e mesmo semanas de antecedência — e não mais em cima do laço, atalho para tragédias. “O estudo amplia o entendimento existente, oferecendo uma perspectiva abrangente dos processos que culminam em terremotos”, diz George Sand de França, professor do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).

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O PARAÍSO CHACOALHOU - Santorini, na Grécia: 200 pequenos sismos
O PARAÍSO CHACOALHOU - Santorini, na Grécia: 200 pequenos sismos (Ummu Nisan Kandilcioglu/Anadolu/Getty Images)

Não se trata, é claro, de supor que seja possível evitar a agitação do solo. Mas a identificação prematura, associada a construções feitas para aguentar os trancos, como no Japão moderno, salvará vidas. “A compreensão do processo, lento e progressivo, é um grande passo”, diz Fineberg. Alertar os cidadãos previamente — como já ocorre com a meteorologia, apesar da inépcia de autoridades em todo o mundo e do descuido irresponsável com as mudanças climáticas — representará imenso ponto de virada. Evitaria, por exemplo, para ficar com um caso histórico, os mais de 1 500 mortos, 3 000 feridos e 1 milhão de desabrigados do terremoto de Valdívia, no Chile, em 1960, o maior de todos os tempos, em escala Richter de 9,5. O mais enigmático dos eventos naturais ganha, enfim, alguma luz.

Publicado em VEJA de 7 de fevereiro de 2025, edição nº 2930

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