Avi Loeb, sobre extraterrestres: “Não estamos sozinhos”
Catedrático da Universidade Harvard, o astrônomo israelense de 59 anos defende a tese de que um misterioso objeto espacial seria obra de seres inteligentes
No recém-lançado livro Extraterrestre (Intrínseca), o senhor defende a ideia de que o objeto interestelar Oumuamua, descoberto em 2017, teria sido produzido artificialmente. Seria um sinal de que há outras civilizações no universo? Possivelmente. Metade das estrelas da Via Láctea semelhantes ao Sol tem planetas em condições habitáveis. Isso implica que devem existir outras civilizações por aí. Elas podem ter surgido há bilhões de anos e lançado equipamentos para fora do sistema solar, como nós já fizemos. A arqueologia espacial deve procurar por esses sinais.
Por que a comunidade científica vê sua teoria sobre Oumuamua com desconfiança? A maioria ignora as anomalias que tornam esse objeto diferente de qualquer coisa que vimos antes. Assumir que Oumuamua é uma simples rocha brilhante é algo que os homens das cavernas fariam se encontrassem um celular. Sua descoberta tira a ciência da zona de conforto. Um colega me disse que gostaria que Oumuamua não existisse, porque é muito estranho. Essa é a abordagem típica de um cientista conservador.
Podemos um dia topar com discos voadores? Não necessariamente. É como andar numa praia. A maioria das coisas que se encontra são rochas, mas em certo ponto você vê uma garrafa plástica, o que é uma indicação de que alguém passou por ali. É uma assinatura tecnológica que mostra: não estamos sozinhos.
Supondo que o senhor esteja certo e ETs existam, por que nunca nos contataram? Não creio que eles estejam interessados. Somos como formigas na calçada: quando você sai para caminhar, não presta atenção nelas. Nós, humanos, somos seres tecnológicos há poucos séculos e o planeta tem 4,5 bilhões de anos. Além disso, há uma janela estreita para a comunicação via rádio, o que explica a falta de retorno.
Na situação hipotética de se comprovar a existência de ETs, o que mudaria? Seria um choque similar ao da minha filha no primeiro dia de escola. As crianças se acham as mais inteligentes do mundo até entrar na escola e conhecer outras pessoas. Haveria impactos em crenças religiosas, nas nossas diferenças políticas e na tecnologia.
Estamos prontos para isso? Não, e não há plano de contingência. Esse não é um assunto que discutimos na ONU ou em qualquer nação. É um tema ridicularizado, mas que pode virar tópico de discussões se coletarmos evidências suficientes. Precisamos estar atentos.
Publicado em VEJA de 16 de junho de 2021, edição nº 2742