As baleias cometem suicídio? Segundo a ciência, não
Fatores ambientais, doenças e até ações humanas podem levar ao encalhamento e à morte desses animais – o suicídio, no entanto, não está entre as causas
Há quem diga, em geral nas redes sociais, que as baleias são capazes de se suicidar, provocando o próprio encalhamento. A crença vai além: encalhamentos em massa seriam desencadeados por um animal que fica preso na praia, e os outros, como uma forma de solidariedade (ou simplesmente um instinto de manter o bando reunido), se atirariam também à terra firme. Não é, porém, o que a ciência diz. Não há comprovação, estudo, pesquisa alguma que indique qualquer veracidade nesse comportamento dos mamíferos marinhos. O que os biólogos sabem é que fatores como doenças e algumas ações do homem podem levar os animais a nadarem até muito próximo da praia, o que causaria – acidentalmente – o encalhamento e eventual morte.
Mas e quando não há uma explicação aparente, seria o suicídio coletivo uma possibilidade para as baleias? A ciência garante que não. “Essa é mais uma tentativa de transferir para os animais algo que é um comportamento exclusivamente humano”, diz Mario Rollo, professor e pesquisador de biologia marinha do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Vicente. “Não há evidências científicas de nenhuma outra espécie que cometa suicídio.” As baleias, portanto, foram muito injustamente usadas por criadores e usuários da página ‘Baleia Azul’, que induz seus usuários às praticas suicidas
Por que, então, esses mamíferos encalham? Segundo o pesquisador, uma das causas mais comuns é a presença de doenças ou ferimentos. Na maioria dos casos, os animais ficam fracos e não conseguem continuar nadando. Por causa disso, são levados até praia e acabam ficando presos, o que resulta, muitas vezes, em morte. O mesmo ocorre quando eles ficam muito velhos.
As ações humanas também contribuem – e muito – para o encalhamento das baleias. A maioria desses animais é extremamente sensível ao som. Rollo afirma que alguns sonares utilizados para navegação podem deixá-los confusos, estressados e atordoados, aumentando as chances de eles nadarem sem querer em direção à praia. Além dessas causas, a poluição, temperatura da água e disponibilidade de alimento são outros fatores que os cientistas consideram estar por trás de alguns desses episódios.
E como explicar, por exemplo, a ocorrência de encalhamentos coletivos, como as baleias piloto – na verdade são golfinhos gigantes – que foram encontradas em uma praia da Nova Zelândia em fevereiro de 2017? Rollo explica que, como esses mamíferos costumam viver em grupos grandes, é muito comum, que um indivíduo adoeça e acabe transmitindo a enfermidade aos demais, provocando uma contaminação em massa. O mesmo se aplica aos outros fatores, já que os animais dividem o mesmo ambiente.
O suicídio, no entanto, definitivamente não é uma hipótese com sustentação científica, segundo o pesquisador. Por mais heroico que pareça, esses animais não estão tirando suas próprias vidas em nome do bando. “Não existe nenhuma indicação de que tenham solidariedade uns com os outros”, afirma. “Para que um animal cometa suicídio é necessário que exista um componente depressivo, algo que é próprio do comportamento humano.”