Árvore com folhas “peludas” é descoberta no Cerrado mineiro
Batizada de Eriotheca luzensis, a planta foi descoberta no município de Luz e levou 10 anos para ser identificada

Pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) descobriram uma nova espécie de planta angiosperma durante uma expedição científica. O achado aconteceu no estacionamento de um restaurante à beira da estrada, na cidade da Luz, em Minas Gerais. Na ocasião, os cientistas estavam coletando amostras da Eriotheca pubescens, conhecida como Paineira-do-cerrado, uma árvore típica do bioma. Contudo, o que parecia ser apenas uma variação chamou a atenção por suas características únicas, levando à identificação de uma nova espécie: a Eriotheca luzensis, cujo nome homenageia o município onde foi encontrada.
Características da nova espécie
Ao comparar essa planta com sua parente mais próxima, a E. pubescens, os cientistas identificaram diferenças significativas. A nova espécie, por exemplo, tem menos anteras (partes que liberam pólen) nas flores — cerca de 130, contra 200 da espécie irmã. Há ainda outros pequenos detalhes como os frutos brancos, os tricomas translúcidos (pequenos “pelinhos”), distribuídos em suas folhas, e as sementes que frequentemente geram mais de um embrião, um fenômeno conhecido como poliembrionia. Além disso, a distribuição geográfica da espécie é muito restrita, sendo encontrada principalmente no Cerrado mineiro, com a maior concentração exatamente no estacionamento do restaurante onde foi descoberta.
A identificação da E. luzensis como uma nova espécie foi um processo longo e detalhado. Desde a coleta inicial, em 2014, os pesquisadores realizaram análises comparativas utilizando exemplares de herbários nacionais e internacionais. Apenas em 2023, com base em estudos morfológicos, reprodutivos e genéticos, foi possível comprovar sua singularidade. Os resultados da pesquisa foram publicados este ano na revista científica Phytotaxa.

Estudos do DNA, liderados pela pesquisadora Rafaela Marinho, uma das descobridoras da espécie, revelaram que a planta possui um genoma maior do que o das suas parentes próximas. A poliembrionia e outras adaptações genéticas sugerem uma evolução específica para o ambiente do Cerrado.
A E. luzensis desempenha um papel crucial no ecossistema local. Suas sementes e flores servem de alimento para diversas espécies, incluindo polinizadores como abelhas. Contudo, sua sobrevivência está ameaçada pelo avanço do desmatamento e pelas queimadas que afetam o bioma, colocando em risco a biodiversidade local e a conservação de espécies como essa.
Os pesquisadores envolvidos na pesquisa esperam que a identificação da nova espécie contribua para a criação de áreas protegidas e elaboração de planos de manejo, passos fundamentais para evitar a extinção da planta.