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Arqueólogos encontram evidências da mais antiga construção em madeira

Toras de mais de 400 mil anos foram escavadas na Zâmbia. Descoberta pode modificar o que sabemos sobre os primeiros humanos

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 set 2023, 12h00

Os humanos da Idade da Pedra podem não ter sido tão itinerantes como se supunha inicialmente. Uma prova disso é o projeto chamado “Raízes Profundas da Humanidade” que indica a existência de estruturas de madeira construídas por homens há meio milhão de anos antes do que se pensava ser possível inicialmente. A pesquisa, publicada hoje, 20, na revista Nature, relata a escavação de madeira bem preservada na Zâmbia. O material tem cerca de 476 mil anos e é anterior ao predomínio dos Homo sapiens.

Esta é a primeira evidência encontrada até agora em todo o mundo a revelar o uso deliberado de toras de madeira para a construção de estruturas. As análises arqueológicas descobriram cortes feitos com ferramentas de pedra, o que indica que os primeiros humanos moldaram e uniram troncos com a intenção de fazer uma plataforma ou parte de uma edificação habitacional. A descoberta tem o potencial de revolucionar o que sabemos sobre os modos de vida dos primeiros grupos humanos já que, até agora, os vestígios mais antigos do emprego de troncos de árvore limitavam-se ao uso para fogo, ferramentas rudimentares e lanças.

Larry Barham / Universidade de Liverpool
A estrutura de madeira, mostrando onde os humanos da Idade da Pedra cortaram a madeira – (Larry Barham / Universidade de Liverpool/Divulgação)

Embora os vestígios em madeira sejam raros, pois o material geralmente apodrece e se decompõe, os cientistas contaram com a proteção ocasional das Cataratas de Kalambo, uma cachoeira de 235 metros na fronteira da Zâmbia com a região de Rukwa, na Tanzânia, às margens do Lago Tanganica. Os níveis de água permanentemente elevados nessa área manteve a madeira submersa e preservada.

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Os pesquisadores envolvidos na pesquisa destacam a raridade do achado, que desafia a visão predominante de que os humanos da Idade da Pedra eram nômades. Isso porque, em Kalambo, havia não apenas abundância de água doce, como também uma vasta floresta capaz de fornecer insumos suficientes para uma vida sedentária, abrindo a possibilidade para a construção de estruturas mais complexas.

A datação das toras de madeira foi feita a partir de técnicas de luminescência, que são capazes de revelar a última vez que os minerais na areia ao redor das descobertas foram expostos à luz do sol. A técnica permite retroceder milênios, trazendo maiores detalhes sobre a evolução humana. O local ao redor das Cataratas já tinha sido escavado na década de 1960, quando foram recuperadas peças de madeira semelhantes, mas não foi possível datá-las inicialmente.

Os autores sugerem que o uso de árvores na história da tecnologia deve ser reexaminado e que a descoberta contribui para a ampliação do que sabemos sobre a capacidade dos primeiros humanos em modificar o ambiente ao seu redor. A região de Kalambo aguarda a aprovação da Unesco para ser declarada um Patrimônio Mundial da Humanidade, dado seu significado arqueológico. Em nota, Geoff Duller da Universidade de Aberystwyth, no Reino Unido, responsável pela datação dos itens, disse que “a investigação mostra que o local é mais antigo do que se pensava, o que faz com que seu significado arqueológico seja ainda maior, acrescentando peso aos argumentos em favor do tombamento como Patrimônio Mundial”.

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